terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A TECNOLOGIA COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO


Publicado originalmente na Revista de Pedagogia Perspectivas em Educação da Unicaieiras.

Set, Out, Nov e Dez / 2007.

 

Apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, o ser humano continua frágil diante do universo que o cerca, ignorante ante muitos desafios com que sua inteligência se defronta e, principalmente, incapaz de se manter no rigor do lado ético da vida. (Nivaldo Jr.)

No início do século XX, a humanidade chocou-se com duas guerras que envolveram o mundo e mostraram o estágio de intolerância que o ser humano pode atingir quando acredita em ideologias ilusórias.
Um ponto positivo, entretanto, que deve ser apontado nesse período, são as inovações, avanços tecnológicos e novos materiais, frutos das pesquisas desenvolvidas na Primeira Guerra Mundial e que, nas décadas seguintes, foram aperfeiçoados para proporcionar conforto à humanidade.
No limiar do novo século (XXI), o mundo assiste ao processo da globalização, fenômeno que, apesar de antigo, ganhou novos contornos e maior exposição na mídia, sendo apresentado como solução para o estágio de evolução que a humanidade se encontra.
Esse fenômeno possui vários aspectos de cunho cultural, comunicacional, político e econômico.  Dessa forma, o desejo de ser cada vez mais competitivo, a fim de que se possa conquistar novos nichos de mercado e a necessidade da tomada de decisões em tempo real, gera novos modelos relacionais.
Alvin Toffler afirma que “nas economias da terceira onda, baseadas na mente, a produção em massa (que quase poderia ser considerada como a marca definidora da sociedade industrial) já é uma forma antiquada” (1993, 39). Diante do exposto e da afirmação do autor, pode-se pressupor que a informação passa a ter papel relevante e ser vista como bem de consumo com alto valor econômico no mercado de capitais.
A complexidade do novo sistema informacional exige trocas de informação cada vez maiores e mais ágeis entre suas unidades. As economias desse novo período, funcionam a velocidades tão aceleradas que se faz necessário mão-de-obra especializada, com capacidades e habilidades genéricas, capazes de se adaptar às mais diversas situações que se apresentarem.
O professor inglês Stuart Hall propõe que “as transformações associadas à modernidade libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas” (1999, 25). O resultado desse período classificado como modernidade é que ele tende a produzir um sujeito histórico fragmentado com deficiências de aprendizagem, emocionais e relacionais. As deficiências do sujeito da modernidade geram crises de identidade nas quais o indivíduo perde a noção de limite entre o real e o imaginário, “resultando nas identidades abertas, contraditórias, inacabadas, fragmentadas, do sujeito pós-moderno” (HALL, 1999, 46).
Diante de tantas transformações, a escola acaba por ocupar posição de destaque na formação e capacitação que o mercado exige. A professora Selma Garrido afirma que “a educação, enquanto reflexo, retrata e reproduz a sociedade; mas também projeta a sociedade que se quer” (2002, 97). A escola cumpre assim papel de locus socializante e também de propagadora do conhecimento acumulado por outros. Paulo Meksenas afirma que a aquisição do conhecimento não deve ter como objetivo a erudição, o saber pelo saber, mas sim a possibilidade de que o conhecimento possa ser ferramenta a mais no processo de transformação social (2002, 89).
Neste contexto a tecnologia, invenção humana, surge com o intuito de facilitar a vida, proporcionando a eliminação de processos demorados, de forma que o tempo racionado possa ser empregado em outras atividades que agreguem valor ao ser humano.
Partindo dessa premissa, a tecnologia pode ser aplicada na sala de aula, propiciando ganho de qualidade na discussão de conteúdos e também como ferramenta inclusiva, eliminando barreiras, pois abre a possibilidade de inserção de portadores de necessidades especiais na sala de aula. Como exemplo dessa face inclusiva pode-se citar o uso de livros falados ou livros em Braile para cegos ou então a adoção da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS - que facilita o entendimento para surdo-mudos.
De volta ao uso de recursos na sala de aula, é interessante frisar que a cultura do país é uma cultura visual, ou seja, a mensagem que se deseja transmitir é melhor assimilada quando carregada por algum meio que prenda a atenção do receptor, atuando  com mais eficácia do que o texto escrito, que diga-se de passagem não atrai a simpatia da grande maioria da população.
Assim com planejamento adequado, o professor tem importantes aliados tecnológicos para auxiliar em seu trabalho, permitindo inovações na sala de aula. Televisão, vídeo, DVD, aparelhos de áudio, retroprojetor, datashow, entre outros, são alguns exemplos de recursos que, direcionados devidamente, possibilitam a transformação de assuntos maçantes em algo agradável de se conhecer e assimilar.
Dessa forma até os alunos podem participar mais ativamente do processo de produção do conhecimento, pois balizados por temas relacionados à disciplina, podem coletar material, efetuar triagem dos que mais se adeqüem ao momento e apresentar aos demais colegas de classe.
O professor, neste contexto, torna-se o condutor do processo de conhecimento, pois direciona a atenção do grupo e canaliza as informações que são expostas quando do uso das ferramentas tecnológicas, transformando a situação em um processo dinâmico e interativo. Sua principal tarefa passa a ser a construção subjetiva do problema, esclarecendo o que acontece ao seu redor. Sua atuação neste sentido deve ser a de mediador do conhecimento, de forma que possa estabelecer relacionamentos entre as mais diversas formas de aprendizagem e aplicação que se apresentam.

Segundo A.I. Pérez Gómez profissional, “parece claro para todos os autores e correntes da sociologia da educação que o objetivo básico e prioritário da socialização dos alunos/as na escola é prepará-los para sua incorporação no mundo do trabalho” (2000, 14). Entretanto, além dessa função para habilitar para o trabalho, a escola deve formar o cidadão para sua intervenção e atuação na vida pública.
Esse ponto de vista é corroborado com a afirmação de Selma Garrido de que “os professores encontram-se em situação paradoxal (...) espera-se deles que sejam ao mesmo tempo lideranças catalisadoras (aceleradoras) e elementos de resistência” (2002, 87). São eles que necessitam transformar o conhecimento teórico em instrumento de reflexão para interpretar a realidade concreta em que o indivíduo está inserido e atua, essa reflexão é o componente permanente e essencial para constituir a formação.
Sobre a questão da reflexão é novamente Selma Garrido quem dá pistas sobre a necessidade de se rever a prática docente, pois segundo a autora: “não existe a menor garantia de que um processo que funcionou com um grupo vá funcionar da mesma forma com outro” (idem, 194). Esse ponto de vista também é reforçado por Hans Aebli quando recomenda que “o professor deve manter-se em intimo contato psicológico com a classe. Deve procurar sentir se a classe o entende, se é capaz de realizar as operações intelectuais que dela exige” (1982,18).
Ainda sobre o assunto vale acrescentar a consideração de Antoni Zabala de que “os docentes, independentemente do nível em que trabalhem, são profissionais que devem diagnosticar o contexto de trabalho, tomar decisões, atuar e avaliar a pertinência das atuações, a fim de reconduzi-las no sentido adequado” (1998,10). Dessa forma a ação reflexiva é ferramenta essencial para a prática docente, pois além de produzir efeitos no meio em que se desenvolve, possui também efeitos duradouros na pessoa que a realiza.
Na tentativa de contribuir com a formação profissional, muitos erros e acertos acabam sendo cometidos no decorrer do caminho, a linha delimitadora entre erro e acerto é muito tênue, tornando difícil julgar com precisão o que realmente é certo ou errado.
O docente diante de um contexto tão complexo tem a função primordial de fornecer os elementos formadores e norteadores, para que o educando de hoje e o profissional de amanhã, mesmo convivendo com tal diversidade possa ser sujeito atuante e capaz de transformar a história, percebendo que o “Tudo o que dizemos tem um antes e um depois – uma margem na qual outras pessoas podem escrever” (HALL, 1999, 41) ou seja, o conhecimento não é algo acabado e está em constante mutação.

Referências Bibliográficas:
AEBLI, Hans. Prática de Ensino. Edusp, São Paulo, 1982.
CARMO, Paulo Sérgio. O Trabalho na Economia Global. São Paulo, Editora Moderna, 1998.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 11a reimpressão. Graal, Rio de Janeiro, 1999.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a Crise do Capitalismo Real. São Paulo, Cortez, 2000.
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. DP & A Editora, Rio de Janeiro, 1999.
MEKSENAS. Paulo. Sociologia da Educação. 10a Edição.Edições Loyola, São Paulo, 2002.
NIVALDO JR. José. Maquiavel, O Poder – História e Marketing. 2a Edição. Martin Claret, São Paulo, 1999.
PIMENTA, Selma Garrido e MASTASIOU, Lea das Graças Camargo. Docência no Ensino Superior – Vol. I. Cortez, São Paulo, 2002.
PONCE, Aníbal. Educação e Luta de Classes. São Paulo, Editora Cortez, 1998.
ROCHMAN, Alexandre Ratner. Globalização – uma introdução. Desatino, São Paulo, 2003.
SACRISTÁN, J. Gimeno et GÓMEZ, A. I. Peres. Compreender e Transformar o Ensino. Porto Alegre, Artmed Editora, 2000.
TOFFLER, Alvin e Heidi. Guerra e Antiguerra – Sobrevivência na Aurora do Terceiro Milênio. 2a Edição. Record, Rio de Janeiro, 1993.
ZABALA, Antoni. A Prática Educativa – Como Ensinar. Artmed, Porto Alegre, 1998.

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