sábado, 5 de fevereiro de 2011

Produzindo Conhecimento em Relações Internacionais

Publicado originalmente no Inter Relações numero 20 - Dez/2005
Resenha: Notas Internacionais. Volume 2.
Organização de Thiago Rodrigues e Cynthia Marcucci.
São Paulo: Desatino, 2005, 118 p.


Informação, conhecimento e compreensão são ferramentas essenciais para a interpretação dos fenômenos que permeiam as relações internacionais. Afirma o professor francês Alain Rouquié, que “hoje, o internacional é inseparável de todas as questões que afetam a vida das sociedades e dos indivíduos” (2004:IX).

A literatura existente sobre o assunto, frequentemente aborda os aspectos teóricos, com discussões profundas e que pressupõem um grau médio (e algumas vezes elevado) de conhecimento por parte dos leitores, tornando seu estudo uma atividade árida e complexa para os iniciantes. Some-se a isso, o fato de que a grande maioria do material que reflete pensamento das relações internacionais é importada. Surge, assim, o desafio constante de produzir conhecimento e discussões atuais, analisadas sob a ótica do especialista brasileiro e condizente com nossa realidade.

 
Como resposta à esse desafio, o Notas Internacionais, em sua segundo volume, reúne artigos de cinco internacionalistas recém-formados, que pretendem contribuir com os resultados de suas pesquisas para a construção de um pensamento de Relações Internacionais brasileiro.
Sueli Silva explora a questão entre “conseguir equilibrar legitimidade junto à população com credibilidade perante os mercados domésticos e internacionais” (2005:35), estabelecendo estudo comparado entre os governos de Walesa, na Polônia, e Lula no Brasil.

São apontados, no artigo, vários aspectos da similaridade existente entre esses governos, ambos formados por líderes que vieram das camadas populares, países em fase de solidificação democrática e estabilização financeira; além de discutir o dilema entre a governabilidade democrática e as reformas de mercado.

Gustavo Nóbrega, por sua vez, aborda a reforma administrativa pela qual passou o Banco do Brasil, bem como os arranjos estruturais e estratégicos que foram implementados para que se chegasse a esse resultado.

É destacado, também, o papel da instituição enquanto agente do fomento comercial, fornecendo “suportes logísticos, técnicos e financeiros” (2005:53), para seus clientes interessados em estabelecer algum tipo de relacionamento comercial com o exterior. Graças a esse tipo de atuação, o Banco do Brasil, tornou-se o principal intermediário das transações comerciais realizadas no âmbito do Mercosul.

 
Seguindo o clima de mudanças, Maria Amélia Alves, contribui com seu artigo “O papel da mudança organizacional na implementação da estratégia empresarial”, abordando questões relacionadas ao comportamento organizacional e gestão de mudanças nas empresas.

A autora argumenta que, em uma época em que as mudanças ocorrem em velocidade constante, mudanças, ajustes ou adequações, são ferramentas necessárias para que se possa manter a competitividade. Conclui-se que conhecer os prós e os contras de se estabelecer projetos de mudança, quais seus impactos e contribuições para as empresas, são partes essenciais que contribuirão para o sucesso ou fracasso da implementação de tias projetos.

 
Complementando as questões abordadas sobre as mudanças estruturais no Banco do Brasil e sua atuação no Mercosul, Roseni Peixoto, demonstra outra faceta das questões comerciais ao descrever “Os modais de carga, sua eficiência no sistema logístico de empresas situadas no Brasil e seus reflexos no Mercosul”.
Em seu estudo, são avaliados os diversos tipos de modal de transporte de carga utilizados no Brasil, bem como os pontos positivos e negativos de seu uso. Amparada por dados estatísticos, em sua reflexão, a autora conclui que se fazem necessários investimentos em infraestrutura para transporte, afim de que o Brasil possa ter vantagens competitivas tanto no mercado nacional, quanto internacional.

Finalmente, Renata D'Onofrio faz uma análise da evolução japonesa, iniciando sua discussão na era Meiji¹ e estendendo-se até o período atual, demonstrando quais foram as reformas e adequações que o Japão necessitou realizar, antes, durante e após a Segunda Guerra Mundial, para conquistar espaço no cenário internacional e se projetar como potência tecnológica e industrial de primeira grandeza.

Em certa medida, pode-se perceber que o tema renovação é o fio condutor de todos os trabalhos apresentados, contribuindo para o desafio de se pensar as Relações Internacionais em suas mais diversas formas e aspectos, efetuando resgates históricos, para que se aprenda com os antecessores, no melhor estilo dos ensinamentos de Maquiavel; sem deixar, contudo, de observar e discutir questões atuais e seus possíveis desdobramentos; exercitando os preceitos de que a ciência e a teoria são respostas provisórias para questões dinâmicas, pois são modelos inacabados, que estão em constante processo de mudança, servindo como ferramentas para interpretar o mundo em que se atua.

Questões que envolvem o relacionamento entre Japão e China, as rivalidades e os posicionamentos políticos, são avaliados, discutindo-se, entre outras coisas, as possíveis disputas econômicas e políticas ou uma provável associação em forma de cooperação internacional, na busca do reconhecimento internacional para as duas nações.


1 – Esse período da história japonesa marca o início da modernização do Japão que buscou em modelos europeus as bases de sua estruturação.


Referências Bibliográficas

ROUQUIÉ, Alain. Préface, in Seitenfus, Ricardo. Relações Internacionais. Barueri-SP. Manole, 2004.

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