quinta-feira, 1 de setembro de 2011

INCLUSÃO SOCIAL – ATO DE CIDADANIA


Resenha do livro:  Deficiência e Inclusão Social – Construindo uma Nova Comunidade.

A Declaração de Salamanca, assinada em junho de 1994 pelo delegados da Conferência Mundial de Educação Especial, conclama governos e instituições de ensino ao redor do mundo a adotarem programas educacionais que visem proporcionar, para portadores de deficiência física, condições de acesso à educação.

Percebe-se a tendência mundial para a inclusão do deficiente físico na sociedade, de forma que, dentro de suas limitações, possa ter suas necessidades básicas satisfeitas e conseqüentemente aumento de sua qualidade de vida.
Conforme afirma o professor Rinaldo Correr “a comunidade precisa compreender que, quando um de seus membros nasce com deficiências todos os demais membros devem assumir juntos o compromisso de construir um ambiente inclusivo” (2003:19).

Partindo deste pressuposto, a obra, Deficiência e Inclusão Social - construindo uma nova comunidade, procura demonstrar como o próprio nome sugere que é possível, com a participação ativa da sociedade, construir um mundo mais inclusivo.

O texto dividi-se em duas partes, sendo que em sua primeira parte são apresentados elementos considerados necessários para se construir o que o título anuncia: uma comunidade inclusiva, abrindo a discussão da necessidade de se acolher e fornecer suportes para os portadores de deficiência, tanto na sociedade como na família, conforme as próprias palavras do autor: “o desafio de garantir o direito à participação de todas as pessoas na sociedade é integrado ao desafio de o fazer com garantia também de qualidade de vida” (2003:33).

Assim, são enumeradas condições que segundo estudos são desejáveis estabelecer ou criar para que as pessoas portadoras de deficiência possam obter certo nível de autonomia, gerindo suas próprias vidas.

A segunda parte da obra, aborda um processo de inclusão social de uma pessoa com deficiência mental, com a participação de membros da comunidade e do círculo familiar próximo. São descritos os passos e a metodologia utilizada nos trabalhos, bem como as formas utilizadas para incentivar o envolvimento dos voluntários na criação e desenvolvimento dos suportes, é detalhado também os avanços e sentimentos despertados nos participantes.
Apesar de focar o assunto quase que exclusivamente em um deficiente mental, por todo o texto é demonstrada a importância de incluir o deficiente na vida em sociedade, de forma que suas diferenças ao contrário de servirem como empecilho, possam ser assimiladas e vir a servir como fator de desenvolvimento para o grupo.

Fica, portanto, a mensagem perceptível que o autor busca mostrar para seus leitores, a de que é possível se envolver no processo de construção de uma comunidade verdadeiramente acolhedora que propicie realmente oportunidades iguais para todos os seus membros, respeitando suas diferenças.
Referências Bibliográficas:
CORRER, Rinaldo. Deficiência e Inclusão Social. São Paulo, EDUSC, 2003.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

GLOBALIZAÇÃO, UM BREVE HISTÓRICO


"Para pensar localizadamente é preciso pensar globalmente, como para pensar globalmente é preciso pensar localizadamente" (Edgar Morin).


O termo globalização passou a ser freqüentemente empregado a partir da última década do século XX. Essa palavra, conforme afirma o professor Paulo Sérgio do Carmo serve "como a chave para explicar as mudanças por que o mundo, aí incluído o Brasil, vem passando nas últimas décadas" (1984:4).

O movimento de globalização remete para o aumento dos fluxos comerciais e financeiros, assim como o estabelecimento de contatos e intercâmbios entre empresas e atores nas mais diversas partes do mundo.

O estabelecimento de relações comerciais é algo que acontece desde muito tempo, os fenícios na Antigüidade praticavam o comércio, na idade média, as cidades-estado italianas Gênova e Veneza realizavam o comércio de especiarias com o oriente, os portugueses e espanhóis em suas navegações tinham também o objetivo de estabelecer rotas comerciais, e mais recentemente, no século XIX a Inglaterra mantinha o controle dos oceanos com sua marinha que além da função policial, realizava o intercâmbio comercial com suas colônias.

Pelos exemplos citados, poder-se-ia presumir que a globalização vista pelo aspecto comercial não é uma novidade, entretanto, o observador mais atento percebe que em todos os exemplos, era o Estado o principal agente desse processo.

O fim do regime socialista soviético representado pela queda do muro de Berlim fez com que o foco das Relações internacionais se deslocasse das questões políticas para o mercado, suas leis e princípios, segundo o professor Ricardo Seitenfus, "do ponto de vista econômico, encontramos a internacionalização da produção, a liberalização das trocas, a supremacia do capital financeiro. As comunicações passam a permitir a eliminação das distâncias, os indivíduos e comunidades organizam-se em rede" (2004:174). A palavra globalização de origem anglo-saxônica (ou mundialização, de origem francesa) ganhou difusão pelo jornalismo econômico, sendo facilmente identificada, porém dificilmente definida.

Pode-se em certa medida concluir que a globalização se iniciou com as descobertas marítimas, avançando com o colonialismo, posteriormente o imperialismo. Porém foi o desenvolvimento do capitalismo e as conseqüências da Revolução Industrial que fizeram surgir os sinais da globalização (Seitenfus: 2004).

Dessa forma, pressupõem-se, que o fim da Guerra Fria, marcado pelo desmantelamento da União Soviética - guardiã do socialismo - as barreiras à expansão do capitalismo e à internacionalização da economia de mercado foram derrubadas. Pode-se afirmar que deixaram de existir alternativas ao capitalismo. O mundo no final do século XX tornou-se crescentemente capitalista, interligado por sistemas comerciais e financeiros.

Assim, para responder às mudanças que aconteciam as nações passaram a se organizar em blocos econômicos. O que diferencia o fenômeno da globalização atual dos exemplos anteriores, é sua dimensão, pois além dos Estados, empresas e corporações passaram a atuar como agentes dessa transformação.

O que se observa é um declínio da participação do Estado e um aumento da presença de outros atores como agentes reguladores da economia, é em certa medida o conceito do economista inglês Adam Smith o Laissez Faire1, ou seja, o mercado busca sua própria estabilidade. Conforme afirma o consultor Kenichi Ohmae "é claro que as corporações, à medida que se deslocam, trazem consigo capital de giro. Talvez mais importante, elas transferem tecnologia e Know-how gerencial" (1996: XIX).

É perceptível a participação cada vez mais crescente desses atores globais nas economias locais, além dessa participação, é importante notar também que o intercâmbio se dá com relação às questões que envolvem tecnologia e fluxos de capital. Pode-se entender este processo como um rearranjo na economia mundial causado pelos avanços técnico-científico e pela grande concentração e mobilidade de capital, "o capital se internacionaliza e investe em inúmeros paises, regiões e continentes com diferentes situações econômicas" (Carmo, 1998:6). O professor Alexandre Ratner reforça essa visão afirmando que "os interesses econômicos tendem à impulsionar ainda mais a globalização" (2003:86).

Dada a mobilidade e o fluxo de capital, a velocidade das trocas e a rapidez das comunicações, os antigos mapas políticos, com suas demarcações de fronteiras, assumem papel secundário, pois a internacionalização acontece com enorme rapidez. Vale frisar que no terreno físico as fronteiras ainda importam, porém a informação aproxima as distâncias políticas, permitindo modelar os fluxos de atividade econômica.

O que passa a ter maior importância é o que as pessoas sabem, desejam ou valorizam, afirma o professor Marcos Roberto Piscopo, que "em diferentes partes do mundo, diferentes clientes, simultaneamente, aspiram às mesmas coisas" (2005:8). Este efeito é atribuído aos avanços da comunicação, principalmente a internet, pois por sua agilidade, o mundo dos negócios tornou-se menor e mais acessível a um número maior de consumidores.

Na tentativa de atender essas demandas, as empresas vivem em ambientes altamente competitivos, pois os investidores buscam retornos rápidos e elevados e os consumidores buscam satisfazerem suas necessidades à custos cada vez menores, "o comércio internacional ocorre com base na competitividade do custo de entrega de um produto (ou seja, custo de fabricação mais custo de logística), em contraste com o preço de venda" (Ohmae, 1996:151).

O professor Seitenfus reforça esse conceito afirmando que "nos últimos vinte anos ele atingiu níveis quatro vezes superiores ao da produção mundial de bens, graças à diminuição constante da média de proteção tarifária das economias nacionais, já que mais de 95% do comércio mundial encontra-se atualmente sob as regras da OMC2" (2004:18).

Para enfrentar esse ambiente altamente competitivo, as empresas encontram-se em situações delicadas, pois ao mesmo tempo em que buscam produzir com menores custos, sofrem pressões no sentido de aproveitar as oportunidades emergentes de mercado e partir para a conquista de novos mercados, necessitando se proteger contra a entrada de novos investidores, que representam aumento da concorrência.

Diante disso, "o conhecimento adquirido pela empresa decorrente da experiência em determinado mercado alvo é fator fundamental para os processos de internacionalização" (Piscopo, 2004:10). Alianças, aquisições e fusões são as formas que novos e antigos competidores encontram para sobreviver diante do dinamismo da economia mundial. As empresas têm a difícil e desafiante tarefa de superar seus limites e ampliar seu market share. 3


1 Conceito segundo o qual o mercado se auto regula, sem a necessidade da intervenção do Estado como agente regulador.
2 OMC: Organização Mundial de Comércio, órgão das Nações Unidas com finalidade de regulamentar os relacionamentos comerciais entre os Estados.
3 Market Share: Expressão da língua inglesa que pode ser entendida como a porção do mercado detida por uma empresa.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSMAN, Hugo. Reencantar a Educação. 4a. Edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas. 4a edição. São Paulo: Edusp, 2003.

CARVALHAL, Eugenio & outros. Negociação e administração de conflitos. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

CARMO, Paulo Sergio. O trabalho na Economia Global. São Paulo: Moderna, 1998.

DOBLINSKI, Suzana. Negócio Fechado: Guia Empresarial de Viagens. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

EICHENGREEN, Barry. A Globalização do Capital – Uma História do Sistema Monetário Internacional. São Paulo: Editora 34, 2002.

GOLEMAN, Daniel, PhD. Inteligência Emocional-A Teoria Revolucionária que Redefine o que é ser Inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.

GRAY, John. AL-Qaeda e o que significa ser Moderno. Rio de Janeiro: Record, 2003.

HALL, Stuart. A identidade Cultural na Pós-modernidade. 3a Edição. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.

HUNTINGTON, Samuel P. O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1998.

JUNQUEIRA, Carmem. Antropologia Indígena. Série Trilhas. São Paulo: EDUC, 1991.

KING, Norman. Os Primeiros 5 Minutos. 2a Edição. São Paulo: Nobel, 1991.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura um Conceito Antropológico. 19a Edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

MARINHO, Raul. Prática na teoria, aplicações da Teoria dos Jogos e da Evolução dos Negócios. São Paulo: Saraiva, 2005.

MARTINS, Estevão Chaves de Rezende. Relações Internacionais, Cultura e Poder. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, 2002.

MORIN, Edgar. A Cabeça Bem-Feita – repensar a reforma, reformar o pensamento. 3a Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a Mestiçagem no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1999.

OHMAE, Kenichi. O fim do Estado-nação. Rio de Janeiro: Campus, 1996.

RECHTMAN, Marcos & BULHÕES, Fernando. Capital de Risco e Diplomacia Corporativa. São Paulo: Cultrix, 2004.

RECK, Ross R. & LONG, Brian G. A Negociação Ganha-Ganha: como negociar acordos favoráveis e duradouros. 4a Edição. São Paulo: Saraiva, 1994.

RIBEIRO, Wagner Costa. Relações Internacionais - Cenários para o século XXI. São Paulo: Scipione, 2000.

ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é Etnocentrismo. 3a Edição. São Paulo: Brasiliense, 1986.

ROCHMAN, Alexandre Ratner. Globalização uma introdução. São Paulo: Desatino, 2003.

RODRIGUES, José Albertino (Org.). Durkheim. 9a Edição. São Paulo: Ática, 1999.

RODRIGUES, Thiago (Org.). Olhares ao Leste, o desafio da Ásia nas Relações Internacionais. São Paulo: Desatino, 2005.

SEBBEN, Andréa & FILHO, Fernando Dourado. Os Nortes da Bússola-Manual para conviver e negociar com culturas estrangeiras. Porto Alegre: Artes e Ofício, 2005.

LÈVI - STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural II. Rio de Janeiro:Tempo Brasileiro, 1993.

SOUZA, José Antonio, in SEBBEN, Andréa & FILHO, Fernando Dourado. Os Nortes da Bússola-Manual para conviver e negociar com culturas estrangeiras. Porto Alegre: Artes e Ofício, 2005.

THOMAS, David C. & INKSON, Kerr. Inteligência Cultural, instrumentos para negócios globais. Rio de Janeiro: Record, 2006.

VIERTLER, Renate Brigitte. Ecologia Cultural uma antropologia da mudança. São Paulo: Ática, 1998.


PERIÓDICOS

PISCOPO, Marcos Roberto. O Papel do Gerenciamento de Projetos na Implementação das Estratégias de Internacionalização. Inter Relações número 13, ano 4. São Paulo, Abril/ 2004.

                                           . Estratégias das Subsidiárias das Empresas Multinacionais que Competem no Mercosul. Inter Relações número 18, ano 5. São Paulo, Junho/2005.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Breves Comentários sobre o pensamento estratégico de Jomini e Clausewitz

Os primeiros textos científicos dedicados ao estudo da guerra e sua condução surgiram no século XIX, graças ao impacto das ciências no mundo ocidental e das guerras napoleônicas que trouxeram uma nova forma de fazer a guerra. Neste contexto surgiram as obras de Jomini e Clausewitz, fundadores do pensamento estratégico no ocidente.

Para Jomini, questões tais como: abastecimento, produção de armamentos ou de treinamento de tropas não são importantes; em sua proposta de estudo regras simples e objetivas, se seguidas, permitiriam levar a vitória. Sua base de análise eram as praticas desenvolvidas pelas guerras napoleônicas. A chave da guerra segundo o autor é a estratégia, que por sua vez é controlada por princípios científicos universais.

O método de Jomini compreendia as alternativas e formas de ofensiva, concentração de forcas e a seleção do ponto decisivo, que segundo ele trata-se do ponto culminante da guerra, no qual uma ofensiva garantiria a vitória. Em sua concepção, o mundo militar era um mundo à parte, não recebendo influências do mundo político. O autor não leva em consideração também o progresso técnico e os avanços científicos em seu modelo de guerra.

Por outro lado Clausewitz desenvolveu uma tentativa rigorosa de uma teoria da guerra amparada em conceitos filosóficos-científicos, concluindo que:
  • A guerra é um ato de força para dobrar o inimigo à nossa vontade.
  • As guerras são limitadas, ilimitadas, porém jamais absolutas.
  • Variáveis como duvida, desgaste, cansaço, medo, erros e acidentes são considerados como fatores de fricção que devem ser encarados como limitadores, sendo necessário a intermediação da política para a conclusão da guerra.
  • A guerra é um instrumento da política, só tendo sentido no mundo político.
  • O objetivo da guerra, para todos os lados, era desarmar o inimigo.
Para Clausewitz, a guerra é um jogo de incerteza e acaso, que faz com que os responsáveis por sua condução moderem o emprego da força evitando a chegada aos extremos da violência. A guerra é dominada por fatores morais e constituída por uma trindade composta por governo, força e povo.

Para o autor, o combate acontece primeiro de forma virtual, ou seja, os comandantes travam a batalha virtualmente para avaliar as possibilidades, podendo evitar resultados desfavoráveis. Em se tratando do combate real, a defesa possui vantagens sobre o ataque, pois esta só tem que manter posições, enquanto que o atacante, além de defender, tem que conquistar novas posições. O ataque possui um ponto culminante, que quando atingido, representa os limites do objetivo da guerra e seu prosseguimento além desse ponto coloca em risco tudo que se obteve até então.

Existem entre o pensamento de Clausewitz e de Jomini certas discrepâncias com relação a conceitos tais como estratégia, que para Jomini é a arte de fazer a guerra sobre o mapa, dividida em tática e grande tática que vem a ser a distribuição de tropas no campo de batalha de acordo com sua geografia. Já para Clausewitz a tática consiste em usar as forças no combate e estratégia é o uso dos combates para atingir os objetivos da guerra.

Pode-se ainda citar que para Clausewitz não existe uma ciência que garanta uma vitória na guerra, cabendo a condução da mesma ao critério de cada responsável pelos combates, enquanto que para Jomini, os princípios da guerra são eternos, universais e científicos que se cumpridos garantem a vitória.

Referências Bibliográficas

PROENÇA Jr., Domício, DINIZ, Eugênio & RAZA, Salvador G. Guia de Estudos Estratégicos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1999.

domingo, 3 de julho de 2011

Comentários sobre o Realismo Político e as Relações Internacionais

 
           A paz de Westfália é o marco inicial da sociedade internacional moderna, estabelecendo que o poder do Papa que predominou durante toda a idade média, tinha desaparecido e que os estados soberanos passavam, a partir de então, a ser o núcleo fundamental da política emergente da sociedade internacional moderna. O Tratado da Paz de Westfália representou um ponto de interrupção no poder da Igreja típico da idade média, para o conceito de soberania dos Estados modernos.
            A política, no sentido das relações internacionais é sempre política de poder. Este poder político na esfera internacional dividi-se em 3 categorias:
  •  Poder militar,
  •  Poder econômico,
  •  Poder sobre a opinião. 
Hans Morgenthau analisa as relações políticas como relações de poder ou de interesses definidos em termos de poder.
Os idealistas pensam que se pode realizar uma ordem política, moral e racional derivada de princípios abstratos e universalmente aceitos. Confiam na educação, na reforma e ocasionalmente no uso da força para aparar arestas.
Já os defensores do realismo, ao contrário dos idealistas, vêem o mundo como o resultado de forças, que para melhorá-lo é necessário colocar-se de forma favorável a elas e não contra elas.
Para isso torna-se necessário abandonar os princípios morais do idealismo e perceber que as relações internacionais políticas são conflitos de interesses.

O realismo político possui seis princípios que são:
  • A política – toda a sociedade obedece a leis objetivas e para melhorá-la é necessário entender a leis que a governam;
  • O interesse dos estados no sistema internacional é sempre definido em termos de poder;
  • O conceito de interesse definido como poder pode ser definido como o objeto fundamental e constante ao longo da história.
  • Os princípios morais universais não podem ser aplicados aos atos dos estados;
  • Aspirações morais de uma nação não podem ser identificadas com os preceitos morais que governam o universo;
  • A esfera política não se permite ser subordinada, apesar de existir parâmetros distintos do político.
Segundo Bedin (2000) independente dos fins últimos da política internacional, o poder é sempre o objetivo imediato. Por isso a política internacional sempre será a luta constante pelo poder, que pode adquirir três formas:
  • Política de defesa do status quo: determinado país procurará manter a situação como se encontra.
  • Política de imperialismo: determinada nação orienta sua política com intenção de aumentar seu poder.
  • Política de prestigio: surge como um meio para que as políticas de status quo e de imperialismo atinjam seu fim, determinado país demonstra possuir meios de realizar ações com a intenção de ampliar seu círculo de poder.
O confronto dessas três formas de políticas culmina em um sistema de equilíbrio de poder, que de forma ampla seria a distribuição igualitária de poder.A busca de um equilíbrio de poder é na verdade uma luta pela estabilidade e pela paz nas relações internacionais.
Entretanto este sistema possui três limites: um grau de incerteza quanto ao cálculo da força de cada participante; um grau de irrealidade, pois os juízos de força e poder podem estar equivocados e um grau de insuficiência, que apesar dos cálculos estarem corretos, pode haver falhas, que só podem ser corrigidas pelo reconhecimento de valores morais.
Para que se chegue a um cenário de paz mundial, o desarmamento mundial, uma política de controle de armamentos, um sistema de segurança coletiva, a criação de uma força policial internacional e de uma junta jurídica para resolução de pendências e até mesmo um governo internacional, são instrumentos que podem contribuir para melhorar as relações internacionais.
Unir a humanidade sob uma única estrutura estatal, criar organismos para dirimir conflitos, estabelecer organismos que enfrentariam qualquer ameaça de comprometer a paz, são três funções que a criação de uma comunidade supranacional deveria cumprir para a que a garantia da paz fosse possível.



Referências Bibliográficas


O realismo político e as Relações Internacionais, in Paradigmas das Relações Internacionais.
BEDIM, Garcia Antonio, Ed. UNIJÍ, 2000

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Breve Reflexão sobre A Arte da Guerra

 


A Arte da Guerra, escrito há cerca de 2.500 anos, pelo general chinês Sun Tzu, esteve em moda recentemente. O tema central do livro versa sobre a guerra, estratégias para combater (e vencer), porque lutar, quando, como e onde fazê-la.

Embora o título sugira a guerra e possa parecer antigo, aborda temas atuais, com aplicações práticas em nosso dia a dia.

Transcedendo o tema guerra, os ensinamentos do livro são aplicáveis a qualquer situação cotidiana, tomemos como exemplo o trecho que versa: “conhece-te a ti e ao teu inimigo e, em cem batalhas que sejam, nunca correrás perigo” (2001:46).

A citação fala em inimigo, se ao invés dessa palavra usarmos o termo 'interlocutor', no lugar de batalhas, 'interação' e substituirmos correrás perigo por 'não sairás perdendo' teremos: conhece-te a ti e ao teu interlocutor e, em cem interações que sejam, não sairás perdendo (grifo nosso). Após as conversões, o que se tem é um modelo para negociação.

Pode-se ver que subjetivamente há 2.500 anos o que Sun Tzu queria dizer é que se deve conhecer o terreno onde se pisa para evitar insucessos. Esse ensinamento se aplica em sua totalidade em nosso cotidiano, quantas vezes somos direcionados para atividades ou situações das quais nada sabemos e precisamos tomar pé da situação para não cometermos erros?

O objetivo desse curto texto é provocar a reflexão sobre essa questão e fica pra quem quiser pensar um pouco mais, a recomendação de leitura da obra completa, que vale a pena por seu conteúdo, lembrando sempre que é necessário transceder tudo aquilo que ali está escrito.


Referências Bibliográficas

Tzu, Sun. A Arte da Guerra. Martin Claret, São Paulo, 2001.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Reflexões sobre o ser humano na pós-modernidade

Nas sociedades primitivas, sem a existência de classes sociais, as crianças conviviam com os adultos, de forma que adquiriam pela vivência o conhecimento de como viver em sociedade, as crenças e regras básicas de seu grupo social. Os interesses da comunidade eram os mesmos resultando em um aprendizado homogêneo e igualitário.

À medida que foram surgindo sociedades organizadas, evoluiu também os meios de produção, fazendo com que se sobressaísse dos demais membros da sociedade um grupo dominante, com interesses distintos dos demais membros da coletividade, de forma que os interesses comuns do grupo social que norteavam anteriormente os processos educativos acabaram por se tornar antagônicos, pois a classe dominante tem interesse em perpetuar sua situação hegemônica e garantir a submissão dos demais, que por sua vez recebem do aparelho estatal (a serviço da elite dominante) educação “formal” que os qualifica como mão-de-obra em prol dos interesses capitalistas.

O Estado surge, dessa forma, como parceiro das elites para legitimar e convencer as classes dominadas da utilidade da educação preparatória para o trabalho, educação que não forma, ao contrário, qualifica. Com o advento da globalização, essa qualificação tornou-se cada vez maior, a mão-de-obra deve cada vez mais ser mais bem preparada, pois a concorrência entre produtos de maior valor agregado e menor custo, é o que garante melhor inserção nos mercados mundiais.

Econômico. Dessa forma, o desejo de ser cada vez mais competitivo, a fim de que se conquiste novos nichos de mercado e a necessidade da tomada de decisões em tempo real, gera novos modelos relacionais.

Alvin Toffler afirma que “nas economias da terceira onda baseadas na mente, a produção em massa (que quase poderia ser considerada como a marca definidora da sociedade industrial) já é uma forma antiquada” (1993:39). Diante do exposto e da afirmação do autor, pode-se pressupor que a informação passa a ter papel relevante e a ser vista como bem de consumo com alto valor econômico no mercado de capitais, além de ferramenta de dominação.

A informação torna-se instrumento de poder. Assim, é possível perceber os relacionamentos humanos, como relações de poder, visível sob vários aspectos - na sociedade, na família, na escola, no trabalho - sempre haverá uma hierarquia que dita as normas de conduta e que deve ser respeitada, sob risco de penalidades. 

A globalização exige trocas de informação cada vez maiores e mais ágeis entre suas unidades. As economias desse período funcionam a velocidades tão aceleradas que se faz necessário mão-de-obra especializada, com capacidades e habilidades genéricas capazes de se adaptar às mais diversas situações que se apresentarem. O professor inglês Stuart Hall propõe que “as transformações associadas à modernidade libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas” (1999:25).
        
O resultado desse período classificado como modernidade é que ele tende a produzir um sujeito histórico fragmentado com deficiências de aprendizagem, emocionais e relacionais. As deficiências do sujeito da modernidade geram crises de identidade nas quais o indivíduo perde a noção de limite entre o real e o imaginário, “resultando nas identidades abertas, contraditórias, inacabadas, fragmentadas, do sujeito pós-moderno” (Hall, 1999:46).

A sociedade atual prega o consumismo desenfreado, o ter e o status social são mais importantes do que o caráter e os valores morais de uma pessoa. Muitas vezes parte-se de falsas premissas para a edificação da vida. O desejo de ascensão social faz com que muitas pessoas percam os valores que lhe foram introjetados na primeira socialização. O julgamento é emitido com base em posses, títulos acadêmicos ou meritórios e outros símbolos externos que remetem ao ‘sucesso’ e deixa-se de lado aquilo que realmente importa e que pode contribuir para o aprimoramento de um grupo – as qualidades do Ser Humano.

É fácil repetir a fórmula propagada pelas religiões cristãs que utilizam a Bíblia como base de orientação e conclamam que se deve “amar ao próximo como a si mesmo”. É possível até se ver a prática de tal preceito quando o próximo é alguém branco, com olhos claros, saudável, com carreira de sucesso. Amar aquele que é igual é simples, não requer esforço, o desafio maior, entretanto, reside em se enxergar o próximo na pele de uma pessoa simples, que não possui o estereótipo do branco europeu, bens materiais, está doente e muitas vezes não tem onde morar.

Ao se rotular uma pessoa de ‘negro’, ‘japonês’, ‘favelado’, ‘rico’, ‘pobre’, ‘burro’ além de enorme falta de respeito, propicia a geração de traumas que muitas vezes podem impedir que o indivíduo desenvolva seu potencial. É necessário romper as barreiras etnocêntricas e sociais e perceber a igualdade entre todos os seres humanos.

Os homens vêem o mundo de acordo com sua cultura, a herança cultural condiciona o indivíduo à não entender o outro. Cada cultura tem muitas variações de um mesmo padrão cultural, assim com também pessoas de culturas diferentes, têm reações diversas ante uma mesma situação. Apesar de todos os homens possuírem a mesma anatomia, a utilização do corpo não é determinada geneticamente, ela depende de um aprendizado, que consiste em uma cópia de padrões que fazem parte da herança cultural de um grupo. Os indivíduos de um mesmo sistema cultural utilizam o corpo de forma diferenciada em função do sexo.

Quando um indivíduo vê o mundo através da sua cultura, sempre é propenso a considerar seu modo de vida como o mais correto e natural, este pensamento pode gerar muitos conflitos sociais, pois o germe do racismo está presente e muitas vezes serve de justificativa para violências praticadas contra outrem. Todo sistema cultural tem uma lógica própria e é através desta lógica que deve ser entendido, ao invés de se tentar transferir a lógica de um sistema para o outro, evitando assim a tendência de considerar lógico somente o próprio sistema e os outros como irracionais.

A intolerância é o traço mais evidente da humanidade. Basta lembrar dos inúmeros os casos de pessoas que foram submetidas a “tratamentos” em manicômios para que se curassem do vício da droga ou então das casas de correção para menores. Verdadeiras fábricas de loucos e escolas de desumanização. A dose de violência ministrada aos internos não contribui para o seu resgate e reabilitação para uma vida em sociedade, ao contrário propicia o aumento do estado de degradação do ser, sendo que muitas vezes tal situação poderia ter sido revertida com um pouco de atenção, carinho e satisfação de necessidades básicas, além é claro de um acompanhamento profissional que privilegiasse o ser humano.

Conviver com as diferenças entendê-las e trabalhar para que sejam mitigadas, deveria ser a missão primordial de todo aquele que participa de uma vida em sociedade. Infelizmente alguns ainda não se deram conta da condição de igualdade entre todos os seres humanos. Busca-se a superação constante, porém, basta lembrar que “quem faz a história, a política, a economia, o direito, a comunicação e a cultura é o ser humano, e sobre ele devem recair as responsabilidades pelos seus atos, e não sobre um ente muitas vezes quase mítico que se resolveu chamar de globalização” (Rochman, 2003:88).




Referências Bibliográficas


AEBLI, Hans. Prática de Ensino. Edusp, São Paulo, 1982.
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1999.
BERGER, Peter & LUCKAMANN, Thomas. A Construção Social da Realidade – Tratado de Sociologia do Conhecimento. 18ª Edição. Vozes, Petrópolis, RJ, 1999.
CARMO, Paulo Sérgio. O Trabalho na Economia Global. São Paulo, Editora Moderna, 1998.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro, Graal, 1995.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a Crise do Capitalismo Real. São Paulo, Cortez, 2000.
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. DP & A Editora, Rio de Janeiro, 1999.
HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. São Paulo, Nova Cultural, 1988.
IMMANUEL, Kant. Crítica da Razão Pura – Vol. I. São Paulo, Nova Cultura, 1991.
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo, Martin Claret, 2003.
MARCONDES FILHO, Ciro. O que todo cidadão precisa saber sobre Ideologia. São Paulo. Global Editora, 1986.
MARX, Karl. O Capital. Volume I. São Paulo, Nova Cultural, 1985.
MARX, Karl. O Capital. Edição Condensada. São Paulo, Edipro, 1998.
MEKSENAS, Paulo. Sociologia da Educação. São Paulo, Edições Loyola, 2002.
NIVALDO JR. José. Maquiavel, O Poder – História e Marketing. 2a Edição. Martin Claret, São Paulo, 1999.
PIMENTA, Selma Garrido e MASTASIOU, Lea das Graças Camargo. Docência no Ensino Superior – Vol. I. Cortez, São Paulo, 2002.
PONCE, Aníbal. Educação e Luta de Classes. São Paulo, Editora Cortez, 1998.
ROCHMAM, Alexandre Ratner. Globalização - uma introdução. São Paulo, Desatino, 2003.
RODRIGUES, José Albertino (Org.) et FERNANDES, Florestan (Coord.). Durkheim. São Paulo, Ática, 1999.
SACRISTÁN, J. Gimeno et GÓMEZ, A. I. Peres. Compreender e Transformar o Ensino. Porto Alegre, Artmed Editora, 2000.
SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter. Record, Rio de Janeiro, 1999.
TOFFLER, Alvin e Heidi. Guerra e Antiguerra – Sobrevivência na Aurora do Terceiro Milênio. 2a Edição. Record, Rio de Janeiro, 1993.
TOURAINE, Alain. Igualdade e Diversidade: O Sujeito Democrático. EDUSC. Bauru, SP, 1997.
ZABALA, Antoni. A Prática Educativa – Como Ensinar. Artmed, Porto Alegre, 1998

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Comentários sobre o Sagrado e o Profano


Para o antropólogo Mircea Eliade, o sagrado se manifesta em geral como uma realidade diferente das realidades naturais.

O homem toma conhecimento do sagrado porque este se mostra como algo totalmente diferente do profano (natural). A partir da manifestação do sagrado um objeto qualquer se torna outra coisa e ao mesmo tempo continua a ser ele mesmo, porque continua a participar do meio cósmico que o envolve.

O homem religioso tem a tendência para viver o mais perto possível no sagrado ou dos objetos consagrados. O sagrado e o profano são duas formas de ser no mundo, duas situações de existência assumida pelo homem durante sua historia, estes modos de ser dependem da posição que o homem conquistou no mundo.

O espaço para o homem religioso não é homogêneo, ele apresenta roturas, existem porções de espaço qualitativamente diferentes umas das outras. Ao contrario para a experiência profana o espaço é homogêneo e neutro, nenhuma ruptura diferencia as diversas partes de sua massa.

Porem a existência profana não se encontra jamais em estado puro, pois seja qual for o grau de dessacralização do mundo que tenha chegado, o homem profano não consegue abolir totalmente o comportamento religioso.

Algo da concepção religiosa do mundo prolonga-se ainda no comportamento do homem profano, embora nem sempre ele tenha consciência dessa herança imemorial. O espaço sagrado implica em uma irrupção do sagrado, que resulta em destaque um território do meio cósmico e o torna diferenciado.

Como o homem religioso somente consegue viver numa atmosfera sacra o sagrado torna-se o real por excelência, ao mesmo tempo poder, fecundidade e fonte de vida. O homem religioso dessa forma deseja viver o mais perto possível do Centro do Mundo, ele experimenta a necessidade de viver sempre em um mundo total e organizado, num Cosmos.

Toda criação implica, portanto numa superabundância de realidade, ou em outras palavras, uma irrupção do sagrado no mundo. Alguns traços de conduta e imagens tradicionais do homem arcaico permanecem nas sociedades mais industrializadas, isso exprime o desejo de viver num cosmos puro e santificado, tal como era no princípio, quando saiu das mãos do Criador.

Assim como o espaço, o tempo também para o homem religioso não é continuo nem homogêneo, há por um lado, os intervalos de tempo sagrado, o tempo das festas; por outro lado, há o tempo profano, a duração temporal ordinária na qual se inscrevem os atos privados de significado religioso.

O tempo para o homem sagrado, por sua própria natureza é reversível, a duração do tempo profano pode ser parada periodicamente pela inserção de ritos, reatualizando desta forma um evento sagrado que teve lugar num passado mítico.

O homem religioso sente necessidade de mergulhar por vezes neste tempo sagrado e indestrutível. Para ele é o tempo sagrado que torna possível o tempo ordinário, a duração profana em que se desenrola toda a existência humana. O homem religioso é sedento de real, esforça-se por todos os meios, para instalar-se na própria fonte de realidade primordial.

Já para o homem não-religioso o tempo não apresenta nem ruptura e nem mistério, constitui a mais profunda dimensão existencial, esta ligado a sua própria existência, portando tem um começo e um fim, que é a morte. O homem não-religioso sabe que se trata de uma experiência humana, onde nenhuma presença divina se pode inserir.

O judaísmo apresenta uma inovação importante, pois para o judaísmo o tempo tem um começo e terá um fim, Jeová não se manifesta em um tempo cósmico e sim num tempo histórico, que é irreversível. O cristianismo vai mais longe na valorização do tempo histórico, visto que Deus encarnou e assumiu uma existência humana historicamente condicionada.

Para o homem religioso a natureza nunca é exclusivamente natural, os deuses manifestaram as diferentes modalidades do sagrado na estrutura do mundo e nos fenômenos cósmicos.

Alguns padres da igreja primitiva moderaram o interesse da correspondência entre os símbolos propostos pelo cristianismo e os símbolos que são patrimônio da humanidade.Isso não destruiu os significados pré-cristãos dos símbolos, apenas adicionou-lhes novo valor.

No mundo moderno a religião como forma de vida e concepção do mundo confunde-se com o cristianismo, a experiência religiosa desta forma torna-se uma experiência estritamente privada, pois a salvação passa a ser um problema que diz respeito ao homem e seu Deus, no melhor dos casos o homem reconhece-se responsável não somente diante de Deus, mas também diante da historia. Nesta relação o cosmos não tem lugar, portanto permite-se supor que para o cristão autentico o mundo já não é sentido como obra de Deus.

O homem moderno a-religioso assume uma nova situação existencial: reconhece-se como o único sujeito e agente da Historia, rejeitando todo apelo a transcendência.
O homem faz-se a si mesmo, e só consegue fazer isso na medida que se dessacraliza e dessacraliza o mundo, o sagrado é o obstáculo por excelência à sua liberdade. O homem somente será verdadeiramente livre quando tiver matado o último Deus.

O homem profano resulta desta dessacralização da existência humana, apesar disso ainda conserva vestígios do comportamento do homem religioso, porem sem os significados religiosos.

O homem a-religioso das sociedades modernas, é alimentado e ajudado pela atividade de seu inconsciente, sem que por isso alcance uma experiência e visão de mundo religiosa. O inconsciente oferece-lhe soluções para suas dificuldades existenciais e, neste sentido, desempenha o papel de religião, pois, antes de tornar uma existência de valores, a religião assegura-lhe a integridade.

Referências Bibliográficas:

ELIADE, Mircea – O SAGRADO E O PROFANO, A essência das religiões-Martins Fontes, SP 1999.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Breve comentário sobre o Leviatã

 
HOBBES, Thomas – Da religião – Capitulo XII, in O Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil, Nova Cultural, 1988.


Hobbes nos aponta que somente no homem são encontrados sinais, ou frutos da religião, que esta semente consiste em alguma qualidade peculiar, ou em pelo menos algum grau desta qualidade, que não é encontrada em outras criaturas vivas.

O desejo dos homens de conhecer as causas dos corpos naturais, suas diversas virtudes e operações, faz como que tenham o reconhecimento de um Deus eterno, infinito, único e onipotente.

A crença em fantasmas, a ignorância das causas segundas, a devoção pelo que se teme e a aceitação de coisas acidentais como prognósticos, consiste a semente natural da religião. A qual desenvolveu-se em cerimônias tão variadas, devido as diferenças de imaginação, julgamento e paixão dos homens, de tal forma que cerimônias praticadas por um homem são em sua maior parte consideradas ridículas por outro.

Porém quando o próprio Deus, através de revelação sobrenatural, implantou a religião, nesse momento ele estabeleceu também para si um reino particular, e não ditou apenas leis relativas ao comportamento para consigo próprio, mas também de uns para com os outros. E dessa maneira no reino de Deus a política e as leis civis fazem parte da religião, não tendo portanto a distinção entre a dominação temporal e a espiritual.

Entre os pontos que a Igreja de Roma declarou necessários para a salvação existe um grande número que redunda em vantagem do Papa, e de seus súditos espirituais que residem nos territórios de outros príncipes cristãos, que se não fosse a recíproca emulação desses príncipes ele teriam podido, sem guerras nem perturbações, recusar toda autoridade exterior, tão facilmente como ela foi recusada pela Inglaterra.

Hobbes atribui todas as mudanças de religião do mundo a uma única causa, isto é a sacerdotes desprezíveis, isto não somente entre os católicos, mas também entre os protestantes.

domingo, 29 de maio de 2011

Dica de Leitura - Fundação

Obra: Fundação
Isaac Asimov
Editora Aleph, SP,  2009



Fundação é uma trilogia de Isaac Asimov, escritor russo, naturalizado americano.

Iniciada em 1942 e concluída em 1953, a obra reúne situações ricas em detalhes, ação envolvente e personagens bem caracterizados.

Inspirada no livro do historiador inglês Edward Gibbon, "A História do Declínio e Queda do Império Romano", o livro embora ambientado em um cenário futurista, aborda temas atuais: militarismo, expansionismo, história, política, diplomacia, estratégia e psicologia.

É uma leitura que prende do começo ao fim, na qual é possível estabelecer paralelismos com passagens históricas, contudo, vale lembra que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência...

Boa Leitura!


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Reflexões sobre o texto : The Evolution of International Society, de Robert H. Jackson

 
A sociedade internacional pode ser compreendida como uma resposta institucional pra acomodar uma realidade de coexistência entre diversas comunidades políticas.

Existem definições históricas que dizem que a sociedade internacional global contemporânea é o exemplo mais destacado de sociedades internacionais.

Pode-se conceituar sociedade política por quatro pontos:
1 – possuir uma população permanente
2 – ocupar um território definido
3 – possuir uma unidade governamental central
4 – ter governo independente

Dessa forma, o ponto principal no estudo das relações internacionais é a existência de estados ou comunidades políticas independentes, com um governo e soberania sobre uma superfície de terra e um segmento particular de população humana.

Alguns autores colocam que o diplomata da Grécia antiga, não era o mesmo diplomata da Renascença Italiana, que por sua vez difere do diplomata do século XVIII ou do século XX.

Os gregos antigos possuíam uma sociedade internacional, capaz de sobreviver por muitos séculos em um ambiente político circunvizinho de vários impérios hegemônicos, tais como Pérsia, Macedônia e o império Romano, baseado na soberania do estado com leis de guerra, reciprocidade e outros arranjos internacionais.

Já a sociedade internacional Italiana da Renascença se baseava no estado e nas identidades dos rivalismos urbanos entre os italianos, onde as pequenas sociedades acabaram sendo oprimidas por seus vizinhos mais poderosos.

A sociedade internacional da Paz de Westfália foi baseada em três princípios básicos:

1 – Rex ext imperator in regno suo (cada rei é o soberano em seu reino)
2 – Cujus régio, ejus religio (é a regra que determinava a religião em cada reino).
3 – Contrapeso da potência (dispositivo para impedir a dominação de outros estados por uma potência).

Graças as suas rivalidades e guerras, os estados europeus desenvolveram tecnologia militar e estrutura organizacional para projetar sua potência em escala global. Dessa forma a lei internacional européia, a diplomacia, e o contrapeso da potência, foram aplicados no mundo inteiro.

Com o fim das colônias, da Guerra Fria e a conseqüente desintegração da União Soviética e os paises do chamado bloco da Cortina de Ferro, temos hoje uma estrutura social global de normas compartilhadas e valores baseados no estado soberano, gerando debates sobre o futuro da soberania do estado e, por conseguinte, sobre o futuro da sociedade global contemporânea.