quinta-feira, 9 de junho de 2011

Comentários sobre o Sagrado e o Profano


Para o antropólogo Mircea Eliade, o sagrado se manifesta em geral como uma realidade diferente das realidades naturais.

O homem toma conhecimento do sagrado porque este se mostra como algo totalmente diferente do profano (natural). A partir da manifestação do sagrado um objeto qualquer se torna outra coisa e ao mesmo tempo continua a ser ele mesmo, porque continua a participar do meio cósmico que o envolve.

O homem religioso tem a tendência para viver o mais perto possível no sagrado ou dos objetos consagrados. O sagrado e o profano são duas formas de ser no mundo, duas situações de existência assumida pelo homem durante sua historia, estes modos de ser dependem da posição que o homem conquistou no mundo.

O espaço para o homem religioso não é homogêneo, ele apresenta roturas, existem porções de espaço qualitativamente diferentes umas das outras. Ao contrario para a experiência profana o espaço é homogêneo e neutro, nenhuma ruptura diferencia as diversas partes de sua massa.

Porem a existência profana não se encontra jamais em estado puro, pois seja qual for o grau de dessacralização do mundo que tenha chegado, o homem profano não consegue abolir totalmente o comportamento religioso.

Algo da concepção religiosa do mundo prolonga-se ainda no comportamento do homem profano, embora nem sempre ele tenha consciência dessa herança imemorial. O espaço sagrado implica em uma irrupção do sagrado, que resulta em destaque um território do meio cósmico e o torna diferenciado.

Como o homem religioso somente consegue viver numa atmosfera sacra o sagrado torna-se o real por excelência, ao mesmo tempo poder, fecundidade e fonte de vida. O homem religioso dessa forma deseja viver o mais perto possível do Centro do Mundo, ele experimenta a necessidade de viver sempre em um mundo total e organizado, num Cosmos.

Toda criação implica, portanto numa superabundância de realidade, ou em outras palavras, uma irrupção do sagrado no mundo. Alguns traços de conduta e imagens tradicionais do homem arcaico permanecem nas sociedades mais industrializadas, isso exprime o desejo de viver num cosmos puro e santificado, tal como era no princípio, quando saiu das mãos do Criador.

Assim como o espaço, o tempo também para o homem religioso não é continuo nem homogêneo, há por um lado, os intervalos de tempo sagrado, o tempo das festas; por outro lado, há o tempo profano, a duração temporal ordinária na qual se inscrevem os atos privados de significado religioso.

O tempo para o homem sagrado, por sua própria natureza é reversível, a duração do tempo profano pode ser parada periodicamente pela inserção de ritos, reatualizando desta forma um evento sagrado que teve lugar num passado mítico.

O homem religioso sente necessidade de mergulhar por vezes neste tempo sagrado e indestrutível. Para ele é o tempo sagrado que torna possível o tempo ordinário, a duração profana em que se desenrola toda a existência humana. O homem religioso é sedento de real, esforça-se por todos os meios, para instalar-se na própria fonte de realidade primordial.

Já para o homem não-religioso o tempo não apresenta nem ruptura e nem mistério, constitui a mais profunda dimensão existencial, esta ligado a sua própria existência, portando tem um começo e um fim, que é a morte. O homem não-religioso sabe que se trata de uma experiência humana, onde nenhuma presença divina se pode inserir.

O judaísmo apresenta uma inovação importante, pois para o judaísmo o tempo tem um começo e terá um fim, Jeová não se manifesta em um tempo cósmico e sim num tempo histórico, que é irreversível. O cristianismo vai mais longe na valorização do tempo histórico, visto que Deus encarnou e assumiu uma existência humana historicamente condicionada.

Para o homem religioso a natureza nunca é exclusivamente natural, os deuses manifestaram as diferentes modalidades do sagrado na estrutura do mundo e nos fenômenos cósmicos.

Alguns padres da igreja primitiva moderaram o interesse da correspondência entre os símbolos propostos pelo cristianismo e os símbolos que são patrimônio da humanidade.Isso não destruiu os significados pré-cristãos dos símbolos, apenas adicionou-lhes novo valor.

No mundo moderno a religião como forma de vida e concepção do mundo confunde-se com o cristianismo, a experiência religiosa desta forma torna-se uma experiência estritamente privada, pois a salvação passa a ser um problema que diz respeito ao homem e seu Deus, no melhor dos casos o homem reconhece-se responsável não somente diante de Deus, mas também diante da historia. Nesta relação o cosmos não tem lugar, portanto permite-se supor que para o cristão autentico o mundo já não é sentido como obra de Deus.

O homem moderno a-religioso assume uma nova situação existencial: reconhece-se como o único sujeito e agente da Historia, rejeitando todo apelo a transcendência.
O homem faz-se a si mesmo, e só consegue fazer isso na medida que se dessacraliza e dessacraliza o mundo, o sagrado é o obstáculo por excelência à sua liberdade. O homem somente será verdadeiramente livre quando tiver matado o último Deus.

O homem profano resulta desta dessacralização da existência humana, apesar disso ainda conserva vestígios do comportamento do homem religioso, porem sem os significados religiosos.

O homem a-religioso das sociedades modernas, é alimentado e ajudado pela atividade de seu inconsciente, sem que por isso alcance uma experiência e visão de mundo religiosa. O inconsciente oferece-lhe soluções para suas dificuldades existenciais e, neste sentido, desempenha o papel de religião, pois, antes de tornar uma existência de valores, a religião assegura-lhe a integridade.

Referências Bibliográficas:

ELIADE, Mircea – O SAGRADO E O PROFANO, A essência das religiões-Martins Fontes, SP 1999.

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