sexta-feira, 22 de junho de 2012

Depois de algum tempo sem publicar, hoje trago o texto de um amigo para sua apreciação.

O sono da razão produz monstros - Francisco de Goya

Para se pensar... A obra foi produzida durante o Iluminismo, onde a proposta era algo como "a luz da razão nos levar ao avanço", Ok! Trata-se de uma obra muito rica, cheia de significados e possibilidades de reflexões a partir de um olhar atento, acima de tudo, trata-se de uma obra um tanto quanto atual. Aqui vão duas breves reflexões...

Enquanto a razão dorme, as obsessões, as crenças sem fundamentos, egoísmos, maldades tomam conta da sociedade, algo que vejo como uma possível denuncia ao ato de "nada fazer" frente aos absurdos cotidianos. Um tanto quanto atual em uma sociedade onde se passa três meses conhecendo a vida dos “Brothers da telinha” e não podemos perder um dia para conhecer a história do candidato que nos representará no Estado (isso para dar apenas um exemplo).

Assim como é possível entender que por trás do anseio de se levar a "razão, ao sucesso, a evolução" (um desejo "politicamente correto"), esteja um desejo um tanto quanto sádico, egocêntrico, obsedado por uma busca da verdade que não mede consequências (verdade pela ciência)... Não tenho um grande caminho no meio científico, pelo contrário, mas já pude ver que isso faz sim parte da realidade "iluminista-contemporânea".

Pensando um pouco mais neste segundo olhar... Vemos a religião colocada em um extremo, e a ciência no outro, o MITO x a VERDADE, ambos vem pra nos ajudar, com o caráter de busca do melhor para a vida, mas a realidade é que, muitas vezes, alem deles mesmos não se ajudarem, de não se complementarem, os dois conhecimentos, cada um no seu extremo, só atrapalham a busca pela evolução, a busca pela melhora, pela saúde, pelo bem estar. Alguém poderia dizer que a resposta está no equilíbrio, e eu retorno a pergunta que equilíbrio há em dois pensamentos que antes de buscar o bem, desejam ser possibilidades únicas?

A busca da evolução, do sucesso, do bem para todos, é o principal motivador de todas as pesquisas científicas e empreitadas religiosas, ou trata-se, puro e exclusivamente, de um ideal egocêntrico de defesa da SUA verdade (a qualquer custo), para depois medir as consequências?

...enquanto a religião mantém alguns monstros acordados, a ciência (em alguns casos) caminha em busca da produção de mais monstros.


Enzo Pizzimenti

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

INCLUSÃO SOCIAL – ATO DE CIDADANIA


Resenha do livro:  Deficiência e Inclusão Social – Construindo uma Nova Comunidade.

A Declaração de Salamanca, assinada em junho de 1994 pelo delegados da Conferência Mundial de Educação Especial, conclama governos e instituições de ensino ao redor do mundo a adotarem programas educacionais que visem proporcionar, para portadores de deficiência física, condições de acesso à educação.

Percebe-se a tendência mundial para a inclusão do deficiente físico na sociedade, de forma que, dentro de suas limitações, possa ter suas necessidades básicas satisfeitas e conseqüentemente aumento de sua qualidade de vida.
Conforme afirma o professor Rinaldo Correr “a comunidade precisa compreender que, quando um de seus membros nasce com deficiências todos os demais membros devem assumir juntos o compromisso de construir um ambiente inclusivo” (2003:19).

Partindo deste pressuposto, a obra, Deficiência e Inclusão Social - construindo uma nova comunidade, procura demonstrar como o próprio nome sugere que é possível, com a participação ativa da sociedade, construir um mundo mais inclusivo.

O texto dividi-se em duas partes, sendo que em sua primeira parte são apresentados elementos considerados necessários para se construir o que o título anuncia: uma comunidade inclusiva, abrindo a discussão da necessidade de se acolher e fornecer suportes para os portadores de deficiência, tanto na sociedade como na família, conforme as próprias palavras do autor: “o desafio de garantir o direito à participação de todas as pessoas na sociedade é integrado ao desafio de o fazer com garantia também de qualidade de vida” (2003:33).

Assim, são enumeradas condições que segundo estudos são desejáveis estabelecer ou criar para que as pessoas portadoras de deficiência possam obter certo nível de autonomia, gerindo suas próprias vidas.

A segunda parte da obra, aborda um processo de inclusão social de uma pessoa com deficiência mental, com a participação de membros da comunidade e do círculo familiar próximo. São descritos os passos e a metodologia utilizada nos trabalhos, bem como as formas utilizadas para incentivar o envolvimento dos voluntários na criação e desenvolvimento dos suportes, é detalhado também os avanços e sentimentos despertados nos participantes.
Apesar de focar o assunto quase que exclusivamente em um deficiente mental, por todo o texto é demonstrada a importância de incluir o deficiente na vida em sociedade, de forma que suas diferenças ao contrário de servirem como empecilho, possam ser assimiladas e vir a servir como fator de desenvolvimento para o grupo.

Fica, portanto, a mensagem perceptível que o autor busca mostrar para seus leitores, a de que é possível se envolver no processo de construção de uma comunidade verdadeiramente acolhedora que propicie realmente oportunidades iguais para todos os seus membros, respeitando suas diferenças.
Referências Bibliográficas:
CORRER, Rinaldo. Deficiência e Inclusão Social. São Paulo, EDUSC, 2003.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

GLOBALIZAÇÃO, UM BREVE HISTÓRICO


"Para pensar localizadamente é preciso pensar globalmente, como para pensar globalmente é preciso pensar localizadamente" (Edgar Morin).


O termo globalização passou a ser freqüentemente empregado a partir da última década do século XX. Essa palavra, conforme afirma o professor Paulo Sérgio do Carmo serve "como a chave para explicar as mudanças por que o mundo, aí incluído o Brasil, vem passando nas últimas décadas" (1984:4).

O movimento de globalização remete para o aumento dos fluxos comerciais e financeiros, assim como o estabelecimento de contatos e intercâmbios entre empresas e atores nas mais diversas partes do mundo.

O estabelecimento de relações comerciais é algo que acontece desde muito tempo, os fenícios na Antigüidade praticavam o comércio, na idade média, as cidades-estado italianas Gênova e Veneza realizavam o comércio de especiarias com o oriente, os portugueses e espanhóis em suas navegações tinham também o objetivo de estabelecer rotas comerciais, e mais recentemente, no século XIX a Inglaterra mantinha o controle dos oceanos com sua marinha que além da função policial, realizava o intercâmbio comercial com suas colônias.

Pelos exemplos citados, poder-se-ia presumir que a globalização vista pelo aspecto comercial não é uma novidade, entretanto, o observador mais atento percebe que em todos os exemplos, era o Estado o principal agente desse processo.

O fim do regime socialista soviético representado pela queda do muro de Berlim fez com que o foco das Relações internacionais se deslocasse das questões políticas para o mercado, suas leis e princípios, segundo o professor Ricardo Seitenfus, "do ponto de vista econômico, encontramos a internacionalização da produção, a liberalização das trocas, a supremacia do capital financeiro. As comunicações passam a permitir a eliminação das distâncias, os indivíduos e comunidades organizam-se em rede" (2004:174). A palavra globalização de origem anglo-saxônica (ou mundialização, de origem francesa) ganhou difusão pelo jornalismo econômico, sendo facilmente identificada, porém dificilmente definida.

Pode-se em certa medida concluir que a globalização se iniciou com as descobertas marítimas, avançando com o colonialismo, posteriormente o imperialismo. Porém foi o desenvolvimento do capitalismo e as conseqüências da Revolução Industrial que fizeram surgir os sinais da globalização (Seitenfus: 2004).

Dessa forma, pressupõem-se, que o fim da Guerra Fria, marcado pelo desmantelamento da União Soviética - guardiã do socialismo - as barreiras à expansão do capitalismo e à internacionalização da economia de mercado foram derrubadas. Pode-se afirmar que deixaram de existir alternativas ao capitalismo. O mundo no final do século XX tornou-se crescentemente capitalista, interligado por sistemas comerciais e financeiros.

Assim, para responder às mudanças que aconteciam as nações passaram a se organizar em blocos econômicos. O que diferencia o fenômeno da globalização atual dos exemplos anteriores, é sua dimensão, pois além dos Estados, empresas e corporações passaram a atuar como agentes dessa transformação.

O que se observa é um declínio da participação do Estado e um aumento da presença de outros atores como agentes reguladores da economia, é em certa medida o conceito do economista inglês Adam Smith o Laissez Faire1, ou seja, o mercado busca sua própria estabilidade. Conforme afirma o consultor Kenichi Ohmae "é claro que as corporações, à medida que se deslocam, trazem consigo capital de giro. Talvez mais importante, elas transferem tecnologia e Know-how gerencial" (1996: XIX).

É perceptível a participação cada vez mais crescente desses atores globais nas economias locais, além dessa participação, é importante notar também que o intercâmbio se dá com relação às questões que envolvem tecnologia e fluxos de capital. Pode-se entender este processo como um rearranjo na economia mundial causado pelos avanços técnico-científico e pela grande concentração e mobilidade de capital, "o capital se internacionaliza e investe em inúmeros paises, regiões e continentes com diferentes situações econômicas" (Carmo, 1998:6). O professor Alexandre Ratner reforça essa visão afirmando que "os interesses econômicos tendem à impulsionar ainda mais a globalização" (2003:86).

Dada a mobilidade e o fluxo de capital, a velocidade das trocas e a rapidez das comunicações, os antigos mapas políticos, com suas demarcações de fronteiras, assumem papel secundário, pois a internacionalização acontece com enorme rapidez. Vale frisar que no terreno físico as fronteiras ainda importam, porém a informação aproxima as distâncias políticas, permitindo modelar os fluxos de atividade econômica.

O que passa a ter maior importância é o que as pessoas sabem, desejam ou valorizam, afirma o professor Marcos Roberto Piscopo, que "em diferentes partes do mundo, diferentes clientes, simultaneamente, aspiram às mesmas coisas" (2005:8). Este efeito é atribuído aos avanços da comunicação, principalmente a internet, pois por sua agilidade, o mundo dos negócios tornou-se menor e mais acessível a um número maior de consumidores.

Na tentativa de atender essas demandas, as empresas vivem em ambientes altamente competitivos, pois os investidores buscam retornos rápidos e elevados e os consumidores buscam satisfazerem suas necessidades à custos cada vez menores, "o comércio internacional ocorre com base na competitividade do custo de entrega de um produto (ou seja, custo de fabricação mais custo de logística), em contraste com o preço de venda" (Ohmae, 1996:151).

O professor Seitenfus reforça esse conceito afirmando que "nos últimos vinte anos ele atingiu níveis quatro vezes superiores ao da produção mundial de bens, graças à diminuição constante da média de proteção tarifária das economias nacionais, já que mais de 95% do comércio mundial encontra-se atualmente sob as regras da OMC2" (2004:18).

Para enfrentar esse ambiente altamente competitivo, as empresas encontram-se em situações delicadas, pois ao mesmo tempo em que buscam produzir com menores custos, sofrem pressões no sentido de aproveitar as oportunidades emergentes de mercado e partir para a conquista de novos mercados, necessitando se proteger contra a entrada de novos investidores, que representam aumento da concorrência.

Diante disso, "o conhecimento adquirido pela empresa decorrente da experiência em determinado mercado alvo é fator fundamental para os processos de internacionalização" (Piscopo, 2004:10). Alianças, aquisições e fusões são as formas que novos e antigos competidores encontram para sobreviver diante do dinamismo da economia mundial. As empresas têm a difícil e desafiante tarefa de superar seus limites e ampliar seu market share. 3


1 Conceito segundo o qual o mercado se auto regula, sem a necessidade da intervenção do Estado como agente regulador.
2 OMC: Organização Mundial de Comércio, órgão das Nações Unidas com finalidade de regulamentar os relacionamentos comerciais entre os Estados.
3 Market Share: Expressão da língua inglesa que pode ser entendida como a porção do mercado detida por uma empresa.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PERIÓDICOS

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                                           . Estratégias das Subsidiárias das Empresas Multinacionais que Competem no Mercosul. Inter Relações número 18, ano 5. São Paulo, Junho/2005.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Breves Comentários sobre o pensamento estratégico de Jomini e Clausewitz

Os primeiros textos científicos dedicados ao estudo da guerra e sua condução surgiram no século XIX, graças ao impacto das ciências no mundo ocidental e das guerras napoleônicas que trouxeram uma nova forma de fazer a guerra. Neste contexto surgiram as obras de Jomini e Clausewitz, fundadores do pensamento estratégico no ocidente.

Para Jomini, questões tais como: abastecimento, produção de armamentos ou de treinamento de tropas não são importantes; em sua proposta de estudo regras simples e objetivas, se seguidas, permitiriam levar a vitória. Sua base de análise eram as praticas desenvolvidas pelas guerras napoleônicas. A chave da guerra segundo o autor é a estratégia, que por sua vez é controlada por princípios científicos universais.

O método de Jomini compreendia as alternativas e formas de ofensiva, concentração de forcas e a seleção do ponto decisivo, que segundo ele trata-se do ponto culminante da guerra, no qual uma ofensiva garantiria a vitória. Em sua concepção, o mundo militar era um mundo à parte, não recebendo influências do mundo político. O autor não leva em consideração também o progresso técnico e os avanços científicos em seu modelo de guerra.

Por outro lado Clausewitz desenvolveu uma tentativa rigorosa de uma teoria da guerra amparada em conceitos filosóficos-científicos, concluindo que:
  • A guerra é um ato de força para dobrar o inimigo à nossa vontade.
  • As guerras são limitadas, ilimitadas, porém jamais absolutas.
  • Variáveis como duvida, desgaste, cansaço, medo, erros e acidentes são considerados como fatores de fricção que devem ser encarados como limitadores, sendo necessário a intermediação da política para a conclusão da guerra.
  • A guerra é um instrumento da política, só tendo sentido no mundo político.
  • O objetivo da guerra, para todos os lados, era desarmar o inimigo.
Para Clausewitz, a guerra é um jogo de incerteza e acaso, que faz com que os responsáveis por sua condução moderem o emprego da força evitando a chegada aos extremos da violência. A guerra é dominada por fatores morais e constituída por uma trindade composta por governo, força e povo.

Para o autor, o combate acontece primeiro de forma virtual, ou seja, os comandantes travam a batalha virtualmente para avaliar as possibilidades, podendo evitar resultados desfavoráveis. Em se tratando do combate real, a defesa possui vantagens sobre o ataque, pois esta só tem que manter posições, enquanto que o atacante, além de defender, tem que conquistar novas posições. O ataque possui um ponto culminante, que quando atingido, representa os limites do objetivo da guerra e seu prosseguimento além desse ponto coloca em risco tudo que se obteve até então.

Existem entre o pensamento de Clausewitz e de Jomini certas discrepâncias com relação a conceitos tais como estratégia, que para Jomini é a arte de fazer a guerra sobre o mapa, dividida em tática e grande tática que vem a ser a distribuição de tropas no campo de batalha de acordo com sua geografia. Já para Clausewitz a tática consiste em usar as forças no combate e estratégia é o uso dos combates para atingir os objetivos da guerra.

Pode-se ainda citar que para Clausewitz não existe uma ciência que garanta uma vitória na guerra, cabendo a condução da mesma ao critério de cada responsável pelos combates, enquanto que para Jomini, os princípios da guerra são eternos, universais e científicos que se cumpridos garantem a vitória.

Referências Bibliográficas

PROENÇA Jr., Domício, DINIZ, Eugênio & RAZA, Salvador G. Guia de Estudos Estratégicos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1999.

domingo, 3 de julho de 2011

Comentários sobre o Realismo Político e as Relações Internacionais

 
           A paz de Westfália é o marco inicial da sociedade internacional moderna, estabelecendo que o poder do Papa que predominou durante toda a idade média, tinha desaparecido e que os estados soberanos passavam, a partir de então, a ser o núcleo fundamental da política emergente da sociedade internacional moderna. O Tratado da Paz de Westfália representou um ponto de interrupção no poder da Igreja típico da idade média, para o conceito de soberania dos Estados modernos.
            A política, no sentido das relações internacionais é sempre política de poder. Este poder político na esfera internacional dividi-se em 3 categorias:
  •  Poder militar,
  •  Poder econômico,
  •  Poder sobre a opinião. 
Hans Morgenthau analisa as relações políticas como relações de poder ou de interesses definidos em termos de poder.
Os idealistas pensam que se pode realizar uma ordem política, moral e racional derivada de princípios abstratos e universalmente aceitos. Confiam na educação, na reforma e ocasionalmente no uso da força para aparar arestas.
Já os defensores do realismo, ao contrário dos idealistas, vêem o mundo como o resultado de forças, que para melhorá-lo é necessário colocar-se de forma favorável a elas e não contra elas.
Para isso torna-se necessário abandonar os princípios morais do idealismo e perceber que as relações internacionais políticas são conflitos de interesses.

O realismo político possui seis princípios que são:
  • A política – toda a sociedade obedece a leis objetivas e para melhorá-la é necessário entender a leis que a governam;
  • O interesse dos estados no sistema internacional é sempre definido em termos de poder;
  • O conceito de interesse definido como poder pode ser definido como o objeto fundamental e constante ao longo da história.
  • Os princípios morais universais não podem ser aplicados aos atos dos estados;
  • Aspirações morais de uma nação não podem ser identificadas com os preceitos morais que governam o universo;
  • A esfera política não se permite ser subordinada, apesar de existir parâmetros distintos do político.
Segundo Bedin (2000) independente dos fins últimos da política internacional, o poder é sempre o objetivo imediato. Por isso a política internacional sempre será a luta constante pelo poder, que pode adquirir três formas:
  • Política de defesa do status quo: determinado país procurará manter a situação como se encontra.
  • Política de imperialismo: determinada nação orienta sua política com intenção de aumentar seu poder.
  • Política de prestigio: surge como um meio para que as políticas de status quo e de imperialismo atinjam seu fim, determinado país demonstra possuir meios de realizar ações com a intenção de ampliar seu círculo de poder.
O confronto dessas três formas de políticas culmina em um sistema de equilíbrio de poder, que de forma ampla seria a distribuição igualitária de poder.A busca de um equilíbrio de poder é na verdade uma luta pela estabilidade e pela paz nas relações internacionais.
Entretanto este sistema possui três limites: um grau de incerteza quanto ao cálculo da força de cada participante; um grau de irrealidade, pois os juízos de força e poder podem estar equivocados e um grau de insuficiência, que apesar dos cálculos estarem corretos, pode haver falhas, que só podem ser corrigidas pelo reconhecimento de valores morais.
Para que se chegue a um cenário de paz mundial, o desarmamento mundial, uma política de controle de armamentos, um sistema de segurança coletiva, a criação de uma força policial internacional e de uma junta jurídica para resolução de pendências e até mesmo um governo internacional, são instrumentos que podem contribuir para melhorar as relações internacionais.
Unir a humanidade sob uma única estrutura estatal, criar organismos para dirimir conflitos, estabelecer organismos que enfrentariam qualquer ameaça de comprometer a paz, são três funções que a criação de uma comunidade supranacional deveria cumprir para a que a garantia da paz fosse possível.



Referências Bibliográficas


O realismo político e as Relações Internacionais, in Paradigmas das Relações Internacionais.
BEDIM, Garcia Antonio, Ed. UNIJÍ, 2000

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Breve Reflexão sobre A Arte da Guerra

 


A Arte da Guerra, escrito há cerca de 2.500 anos, pelo general chinês Sun Tzu, esteve em moda recentemente. O tema central do livro versa sobre a guerra, estratégias para combater (e vencer), porque lutar, quando, como e onde fazê-la.

Embora o título sugira a guerra e possa parecer antigo, aborda temas atuais, com aplicações práticas em nosso dia a dia.

Transcedendo o tema guerra, os ensinamentos do livro são aplicáveis a qualquer situação cotidiana, tomemos como exemplo o trecho que versa: “conhece-te a ti e ao teu inimigo e, em cem batalhas que sejam, nunca correrás perigo” (2001:46).

A citação fala em inimigo, se ao invés dessa palavra usarmos o termo 'interlocutor', no lugar de batalhas, 'interação' e substituirmos correrás perigo por 'não sairás perdendo' teremos: conhece-te a ti e ao teu interlocutor e, em cem interações que sejam, não sairás perdendo (grifo nosso). Após as conversões, o que se tem é um modelo para negociação.

Pode-se ver que subjetivamente há 2.500 anos o que Sun Tzu queria dizer é que se deve conhecer o terreno onde se pisa para evitar insucessos. Esse ensinamento se aplica em sua totalidade em nosso cotidiano, quantas vezes somos direcionados para atividades ou situações das quais nada sabemos e precisamos tomar pé da situação para não cometermos erros?

O objetivo desse curto texto é provocar a reflexão sobre essa questão e fica pra quem quiser pensar um pouco mais, a recomendação de leitura da obra completa, que vale a pena por seu conteúdo, lembrando sempre que é necessário transceder tudo aquilo que ali está escrito.


Referências Bibliográficas

Tzu, Sun. A Arte da Guerra. Martin Claret, São Paulo, 2001.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Reflexões sobre o ser humano na pós-modernidade

Nas sociedades primitivas, sem a existência de classes sociais, as crianças conviviam com os adultos, de forma que adquiriam pela vivência o conhecimento de como viver em sociedade, as crenças e regras básicas de seu grupo social. Os interesses da comunidade eram os mesmos resultando em um aprendizado homogêneo e igualitário.

À medida que foram surgindo sociedades organizadas, evoluiu também os meios de produção, fazendo com que se sobressaísse dos demais membros da sociedade um grupo dominante, com interesses distintos dos demais membros da coletividade, de forma que os interesses comuns do grupo social que norteavam anteriormente os processos educativos acabaram por se tornar antagônicos, pois a classe dominante tem interesse em perpetuar sua situação hegemônica e garantir a submissão dos demais, que por sua vez recebem do aparelho estatal (a serviço da elite dominante) educação “formal” que os qualifica como mão-de-obra em prol dos interesses capitalistas.

O Estado surge, dessa forma, como parceiro das elites para legitimar e convencer as classes dominadas da utilidade da educação preparatória para o trabalho, educação que não forma, ao contrário, qualifica. Com o advento da globalização, essa qualificação tornou-se cada vez maior, a mão-de-obra deve cada vez mais ser mais bem preparada, pois a concorrência entre produtos de maior valor agregado e menor custo, é o que garante melhor inserção nos mercados mundiais.

Econômico. Dessa forma, o desejo de ser cada vez mais competitivo, a fim de que se conquiste novos nichos de mercado e a necessidade da tomada de decisões em tempo real, gera novos modelos relacionais.

Alvin Toffler afirma que “nas economias da terceira onda baseadas na mente, a produção em massa (que quase poderia ser considerada como a marca definidora da sociedade industrial) já é uma forma antiquada” (1993:39). Diante do exposto e da afirmação do autor, pode-se pressupor que a informação passa a ter papel relevante e a ser vista como bem de consumo com alto valor econômico no mercado de capitais, além de ferramenta de dominação.

A informação torna-se instrumento de poder. Assim, é possível perceber os relacionamentos humanos, como relações de poder, visível sob vários aspectos - na sociedade, na família, na escola, no trabalho - sempre haverá uma hierarquia que dita as normas de conduta e que deve ser respeitada, sob risco de penalidades. 

A globalização exige trocas de informação cada vez maiores e mais ágeis entre suas unidades. As economias desse período funcionam a velocidades tão aceleradas que se faz necessário mão-de-obra especializada, com capacidades e habilidades genéricas capazes de se adaptar às mais diversas situações que se apresentarem. O professor inglês Stuart Hall propõe que “as transformações associadas à modernidade libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas” (1999:25).
        
O resultado desse período classificado como modernidade é que ele tende a produzir um sujeito histórico fragmentado com deficiências de aprendizagem, emocionais e relacionais. As deficiências do sujeito da modernidade geram crises de identidade nas quais o indivíduo perde a noção de limite entre o real e o imaginário, “resultando nas identidades abertas, contraditórias, inacabadas, fragmentadas, do sujeito pós-moderno” (Hall, 1999:46).

A sociedade atual prega o consumismo desenfreado, o ter e o status social são mais importantes do que o caráter e os valores morais de uma pessoa. Muitas vezes parte-se de falsas premissas para a edificação da vida. O desejo de ascensão social faz com que muitas pessoas percam os valores que lhe foram introjetados na primeira socialização. O julgamento é emitido com base em posses, títulos acadêmicos ou meritórios e outros símbolos externos que remetem ao ‘sucesso’ e deixa-se de lado aquilo que realmente importa e que pode contribuir para o aprimoramento de um grupo – as qualidades do Ser Humano.

É fácil repetir a fórmula propagada pelas religiões cristãs que utilizam a Bíblia como base de orientação e conclamam que se deve “amar ao próximo como a si mesmo”. É possível até se ver a prática de tal preceito quando o próximo é alguém branco, com olhos claros, saudável, com carreira de sucesso. Amar aquele que é igual é simples, não requer esforço, o desafio maior, entretanto, reside em se enxergar o próximo na pele de uma pessoa simples, que não possui o estereótipo do branco europeu, bens materiais, está doente e muitas vezes não tem onde morar.

Ao se rotular uma pessoa de ‘negro’, ‘japonês’, ‘favelado’, ‘rico’, ‘pobre’, ‘burro’ além de enorme falta de respeito, propicia a geração de traumas que muitas vezes podem impedir que o indivíduo desenvolva seu potencial. É necessário romper as barreiras etnocêntricas e sociais e perceber a igualdade entre todos os seres humanos.

Os homens vêem o mundo de acordo com sua cultura, a herança cultural condiciona o indivíduo à não entender o outro. Cada cultura tem muitas variações de um mesmo padrão cultural, assim com também pessoas de culturas diferentes, têm reações diversas ante uma mesma situação. Apesar de todos os homens possuírem a mesma anatomia, a utilização do corpo não é determinada geneticamente, ela depende de um aprendizado, que consiste em uma cópia de padrões que fazem parte da herança cultural de um grupo. Os indivíduos de um mesmo sistema cultural utilizam o corpo de forma diferenciada em função do sexo.

Quando um indivíduo vê o mundo através da sua cultura, sempre é propenso a considerar seu modo de vida como o mais correto e natural, este pensamento pode gerar muitos conflitos sociais, pois o germe do racismo está presente e muitas vezes serve de justificativa para violências praticadas contra outrem. Todo sistema cultural tem uma lógica própria e é através desta lógica que deve ser entendido, ao invés de se tentar transferir a lógica de um sistema para o outro, evitando assim a tendência de considerar lógico somente o próprio sistema e os outros como irracionais.

A intolerância é o traço mais evidente da humanidade. Basta lembrar dos inúmeros os casos de pessoas que foram submetidas a “tratamentos” em manicômios para que se curassem do vício da droga ou então das casas de correção para menores. Verdadeiras fábricas de loucos e escolas de desumanização. A dose de violência ministrada aos internos não contribui para o seu resgate e reabilitação para uma vida em sociedade, ao contrário propicia o aumento do estado de degradação do ser, sendo que muitas vezes tal situação poderia ter sido revertida com um pouco de atenção, carinho e satisfação de necessidades básicas, além é claro de um acompanhamento profissional que privilegiasse o ser humano.

Conviver com as diferenças entendê-las e trabalhar para que sejam mitigadas, deveria ser a missão primordial de todo aquele que participa de uma vida em sociedade. Infelizmente alguns ainda não se deram conta da condição de igualdade entre todos os seres humanos. Busca-se a superação constante, porém, basta lembrar que “quem faz a história, a política, a economia, o direito, a comunicação e a cultura é o ser humano, e sobre ele devem recair as responsabilidades pelos seus atos, e não sobre um ente muitas vezes quase mítico que se resolveu chamar de globalização” (Rochman, 2003:88).




Referências Bibliográficas


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BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1999.
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