terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A Cor do Mercado de Trabalho

Originalmente publicado no Informativo FASM-Jornal Informativo do Curso de Relações Internacionais da FASM (Antecessor do Inter Relações) – Jan-Fev/2000.


Um pouco da história (oficial!)

22 de abri lde 1500, o Brasil foi descoberto pela esquadra de Pedro Álvares de Cabral. Mas a colonização, de fato, começou no inicio dos anos 30 daquele século com a expedição de Martin Afonso de Souza. A partir de então, a relação com os índios – que até esse momento consistia em troca de quinquilharias por pau Brasil – começou a mudar.

Os portugueses foram desalojando os índios de suas terras e tentaram escravizá-los. Mas as fugas das tribos para o interior, a resistência do índio, sua defesa pelos jesuítas e os interesses do tráfico africano, fizeram do negro o principal elemento escravo da colônia.

Os negros, por sua vez, também não aceitaram passivamente sua escravidão, e desde os primeiros tempos lutaram contra ela. As revoltas cada vez mais violentas, a pressão dos abolicionistas somada aos interesses internacionais levaram a Câmara dos Deputados a aprovar o projeto de Rodrigo Silva, o qual foi sancionado pela regente em 13 de maio de 1888 – era o fim da escravatura no Brasil. No entanto, deve-se levar em conta que, mesmo antes da Abolição, em São Paulo os escravos já vinham sendo substituídos por imigrantes.


A mestiçagem

Com a abolição, surge para os pensadores brasileiros a questão de construir uma nação e uma identidade nacional tendo em vista a nova categoria de cidadãos: os ex-escravizados. Este processo de construção da identidade nacional na cabeça de elite pensante e politica baseou-se no ideal de branqueamento, ou seja, mestiçar brancos e negros de forma que ao passar das gerações a população negra fosse diluindo-se gradativamente. Mas o ideal de branqueamento enfrentou fortes resistências populares e foi abandonado em meados deste século (no caso século XX).

Temos então o Brasil como uma nova civilização feita de homens e mulheres das mais variadas etnias. Entretanto, o surgimento de uma etnia brasileira capaz de envolver e acolher toda essa gente variada, passa por uma anulação das identificações étnicas e por uma identificação entre as várias formas de mestiçagem. Sem dúvida, todas as culturas dos povos que se encontraram foram beneficiadas por um processo de empréstimos e de transculturação desde os primórdios da colonização; isto faz do Brasil o país mais mestiçado do mundo. Com isso, os mestiços brasileiros acabaram por entrar em uma categoria intermediária, hierarquizada entre o branco e o negro/índio, porém não constituem uma categoria de destaque devido ao fato do preconceito racial brasileiro ser de cor e não de origem como nos Estados Unidos e na África do Sul. A combinação do critério de cor e a condição socioecônomica permitem que o individuo atravesse a linha de cor e se reclassifique como branco.

Hoje, apesar de todas as classificações existentes, se observa que brancos e negros, mais do que imaginam, compartilham modelos comuns de comportamento. Os primeiros são mais africanizados e os segundos, mais ocidentalizados do que pensam. Por outro lado, uns interpretam o aumento cada vez maior de mestiços na nossa população como a realização do ideal de branqueamento. Mas o pensamento dessa pessoas é certamente equivocado. E, numa só frase o pensador Silvio Romero traduziu toda a nossa situação étnica: “Todo brasileiro é um mestiço, quando não o é no sangue o é nas idéias”.


Nossa Proposta

Na crise atual, onde somos atores e, ao mesmo tempo, platéia de um Brasil assustado, dono de um gigantismo natural e antagônico, desfavorável sob certos aspectos, um país que precisa preencher imensas lacunas históricas, cicatrizar feridas sociais, estancar hemorragias econômicas, esquecer velhos sonhos, se reconstruir – ou se construir de fato, já que só se pode reconstruir o que antes já havia sido algo - até pode parecer irônico falarmos do mercado de trabalho nos 500 anos da sociedade brasileira, mais ainda da cor deste mercado.

Com esta imagem, digamos assim, um tanto “desencantada”, decidimos fazer o seguinte recorte no subtema “a cor do mercado de trabalho no Brasil”: não trilharíamos caminhos já saturados, queríamos ir um pouco além. Afinal, muitas pesquisas (excelentes) já foram feitas.

Foi então que nos ocorreu a idéia de encararmos o desafio tentando analisar o subtema pelo lado místico. Não simplesmente falar deste ou daquele negro que conseguiu ser general, do sansei que passou em primeiro lugar no vestibular da USP, do índio que bebeu chá com a Rainha de não sei onde etc. Absolutamente! Partiríamos, sim, do que é comum a todas as cores, a todos os homens: o mito, o desejo.

Para o psiquiatra suíço C. G. Jung – introdutor da noção de um inconsciente coletivo, que representa o acúmulo de experiências da humanidade e se exprime por seus arquétipos – os mitos são representações espontâneas vindas dos inconsciente, de verdades psicológicas e espirituais. Representam de forma alegórica os padrões de vida universalmente reconhecidos. Dessa forma, um mito está para a humanidade em geral, assim como o sonho para o indivíduo. E isto vai ter repercussão na nossa auto estima. A forma como nos sentimos acerca de nós mesmos é algo que afeta crucialmente todos os aspectos da nossa existência. Os dramas da nossa vida são reflexos das visões mais íntimas que temos de nós mesmos. Somos, no fundo, a mistura da realidade e do mito.

E quem está 100% contente consigo mesmo?” - este foi nosso ponto de partida. Simulamos, então, um anúncio de classificados no qual apareciam os – não raramente atrelados um ao outro – pré-requisitos “excelente aparência e apresentação pessoal”, oferecemos um cargo/salário de encher os olhos, atrelamos ao anúncio uma lista de perguntas objetivas onde o entrevistado se transformava no candidato ao suposto emprego e, o melhor de tudo, demos a ele o poder de mudar qualquer coisa em si mesmo que considerasse “insatisfatória” ou que pudesse, na sua opinião, lhe ser desfavorável na hora de vencer seus concorrentes. Distribuímos os formulários para diversas pessoas pertencentes as mais variadas cores/etnias. No final, analisamos estatisticamente e subjetivamente as respostas dos entrevistados – também subjetivamente porque havia um espaço para o pesquisado escrever sua definição (idealizada) do seu “candidato(a) ideal à vaga proposta no anúncio” e o porquê de sua resposta.


O que estávamos buscando?

Basicamente, ao darmos a oportunidade ao indivíduo pesquisado de estar na posição de pretendente hipotético e, ao mesmo tempo, de ser seu próprio contratante, desejávamos que o próprio trabalhador respondesse – numa visão subjetiva/mítica – qual a cor do mercado de trabalho no Brasil.


A frustração

Estávamos, sem dúvida, prestes a profanar “um território sagrado”, ou seja, o lado oculto, o ponto mais escondido/protegido que possuímos – ás vezes, até ignorado por nós mesmos.

No entanto, e devemos admití-lo, não conseguimos um resultado satisfatório em termos estatísticos. Alguns entrevistados responderam, mas se recusaram a devolver os questionários. Outros, não entenderam. Outros ainda, sequer responderam.

Evidentemente, o desânimo foi geral. O tempo corria e o nosso desespero aumentava. O trabalho estava inacabado. Talvez tivéssemos exagerado na dose. Talvez o questionário, de fato, estivesse confuso. Sim, era possível, afinal tudo era apressado demais... É isto! Tínhamos assumido essa urgência típica do nosso país, desde sempre.

Não estávamos estupefatos com o pretenso gigantismo do nosso trabalho, e sim, com as atitudes que se foram revelando diante dele. No total, o que não é surpresa, o referencial do mercado de trabalho continua sendo branco/origem européia. Mas o que mais nos espantou foi deparamos com mulatos (as) que, na hora de identificarem -se com dados reais, assumiram a identidade branca (e também outros casos de “reclassificação” de cor/etnia).

Havia uma dúvida no ar, um medo. Começamos, então, a nos questionar e descobrimos que também não tínhamos as respostas sobre nós mesmos. Quanto mais pensávamos, mais ia ficando instigante e assustador esse nosso auto questionamento. Era (é) assombroso esse olha para dentro na tentativa de desvendar nossa identidade real ou, quem sabe, ter de admitir que ela nunca existiu fora do imaginário.

Quanto mais olhávamos dentro desse espelho que só existe bem lá no fundo de cada um de nós, mais nos identificávamos com as indagações implícitas nas entrelinhas das respostas que nos foram devolvidas. Talvez seja essa nossa verdadeira cara/cor/corpo: uma dúvida, uma vazio, o Brasil como um rei prometido/ansiado, se debatendo num imenso corredor de espelhos.

Ele grita, fecha bem firme os olhos e corre, corre sem parar e sem destino, jovem, majestoso, enlouquecido pelo pânico de se ver refletido na crueldade real dos espelhos.

E você, quem é de verdade? Qual é a sua cor? Qual a sua cara?

Foi um desafio.

Saímos em busca das pessoas, com suas diferentes origens, cores e profissões e, qual a nossa surpresa...somos todos iguais, com o branco assumido e por vezes desconhecido...


Obs.: Este texto difere em estilo dos demais pois foi elaborado a partir de um trabalho de pesquisa realizado em grupo, composto por Abelardo Recco, Felipe Grecco, Ligia Piola e eu.

BREVE REFLEXÃO SOBRE COMÉRCIO ELETRÔNICO

 
A globalização propiciou a abertura e o contato com novos públicos alvos, produzindo mudanças significativas no comportamento de mercado, exigindo que as organizações que dele fazem parte, se adeqüem para manter sua competitividade. Num cenário dinâmico, com constantes mudanças, faz-se necessário um planejamento estratégico eficaz para se manter atuante. Neste processo de manutenção da competitividade, conquistar novos parceiros, clientes e nichos de mercados é parte essencial de qualquer planejamento de negócios, pois é na realização de negócios que está a chave para a sobrevivência das organizações.

Os manuais de negociação em geral preconizam que para se conduzir uma boa negociação é necessária a capacidade de planejar e organizar, comunicar-se e estabelecer vínculos baseados na credibilidade. O professor Eugênio do Carvalhal, afirma que "a negociação está presente de forma intensa na vida contemporânea. Ao negociar, envolvemo-nos em trocas, concessões e barganhas, nas quais as questões substantivas em jogo estão colocando em risco as relações e criando oportunidades para os relacionamentos" (2006:15).

O comércio neste contexto surge como ferramenta de interação e relacionamento entre os mais variados tipos de potenciais consumidores. Seguindo a tendência tecnológica que é a marca do século XXI, os relacionamentos comerciais também passaram por evoluções e encontram-se atualmente em franca expansão na internet. No início dos negócios na internet as transações entre empresas predominaram, em um segundo momento, foram as transações empresa-consumidor, evoluindo para o comério eletrônico entre pessoas físicas.

Dados estatísticos divulgados no site e-commerce (http://www.e-commerce.org.br/) projetam para o ano de 2009 um faturamento de cerca de 10 milhões de reais para o varejo on-line, este número é cerca de 22% maior do que o faturamento de 2008. Tomando-se por base essa análise, é possivel concluir que o comércio eletrônico está em franca expansão no Brasil, propiciando a inserção de novos fornecedores virtuais, bem como das redes de varejo tradicionais que encontram nesta modalidade de comércio a oportunidade de expansão com custos relativamente menores do que aqueles que incidiriam sobre um ponto comercial convencional, além da possibilidade de ampliar o relacionamento com o cliente de forma interativa, quer seja no fornecimento de produtos correspondentes ao seu perfil ou oferecendo facilidades e comodidade para determinados serviços.
Novos e vários termos e siglas surgem para denominar estes modelos de transação:

B2B (Business to Business) – Transações de comércio entre empresas. Uma empresa vendendo para outra empresa é B2B. É a sigla mais conhecida. Um exemplo é a venda material de escritório para empresas ou a compra de insumos para a produção de bens.

B2C (Business to Consumer) – É o comércio entre uma empresa e o consumidor. Este é o mais comum. Como exemplo pode-se cita o site Submarino.

C2C (Consumer to Consumer) – Comércio desenvolvido entre consumidores, intermediado normalmente por uma empresa (o dono do site). Um exemplo é o mercado livre.

B2G (Business to Governement) – Transações entre empresa e governo. Os exemplos mais comuns de B2G são licitações e compras de fornecedores.

B2E (Business-to-Employee) – Em geral são os portais internos (intranets) que servem para funcionários de determinada empresa realizarem solicitação de material, gerir seus benefícios ou até utilizar processos de gestão dos funcionários (faltas, avaliações, inscrições em treinamentos).

G2B (Govenement to Business) – São as relações de negócio entre o governo e empresas Por exemplo: as compras pelo Estado através da internet por meio de pregões e licitações, tomada de preços, etc.

G2C (Government to Citizen) – É a relação entre governo (federal, estadual ou municipal) e consumidores, oferencendo a prestação de serviços. Exemplos: o pagamento via Internet de impostos, multas e tarifas públicas.

Facilidades tais como suprimentos on-line, catálogos de materiais virtuais, shoppings de e-commece, sites de empresas que oferecem serviços para os clientes, sites de órgãos do governo que disponibilizam serviços ao público e bancos que oferecem serviços aos seus clientes são realidades com as quais se convive diariamente.

A adesão do público brasileiro aos novos tipos de serviços demonstra as possibilidades de crescimento em escala, uma vez que os serviços oferecidos atualmente são limitados a determinados produtos e serviços, pois de acordo com dados divulgados pelo site etiempresa.com.br, existem nichos de mercado para serem explorados:

 Produtos Mais Vendidos no Varejo on-line do Brasil

Produtos mais Vendidos              % em 2007
Livros, Revistas e Jornais                      17%
Saúde e Beleza                                      12%
Informática                                              11%
Eletrônicos                                               9%
Eletrodomésticos                                      6%

Fonte: Levantamento mensal realizado pela empresa e-Bit  www.ebitempresa.com.br/ Compilação: www.e-commerce.org.br


Dessa forma, pode-se perceber que nichos de mercado voltados para vestuário, artesanato, artigos religiosos, bem como outras modalidades de relacionamento que envolvem o uso de celular para pagamentos, realização de transações bancárias e a aquisição de produtos financeiros, tais como ações, empréstimos e programas de fidelidade, são algumas das tendências que despontam no horizonte.

Criar diferenciais, tais como lembretes de últimos produtos vistos, itens mais pesquisados e até mesmo a customização de páginas de acordo com o perfil de consumo ou pesquisa, além de agregar valor, proporcionam a fidelização do consumidor.

Se o serviço for bem prestado, o produto entregue sem problemas e com rapidez, o comprador certamente voltará a comprar, pois considerará os fatores de rapidez e economia em sua escolha. Essa afirmação é reforçada pelos dados da pesquisa realizada pela consultoria e-bit em conjunto om a Câmara Brasileira de Comércio Seguro envolvendo cerca de 130 mil usuário de 1.800 sites de e-commerce, a qual demonstrou que 87% dos usuários encontram-se satisfeitos com o atendimento prestado.

Todo este relacionamento, contudo, deve ser pautado em códigos de conduta ética que possibilitem o fornecimento de produtos com qualidade que suportem as necessidades dos adquirentes, levando-se em conta que também as questões que envolvem segurança anti-fraudes, facilidades de pagamentos, prazos para entrega e certeza de recebimento do bem adquirido, são fatores essenciais e considerados pelos clientes ou potenciais clientes para o estabelecimento e a manutenção de relações comercias.


REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHAL, Eugenio & outros. Negociação e administração de conflitos. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

DOBLINSKI, Suzana. Negócio Fechado: Guia Empresarial de Viagens. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

EICHENGREEN, Barry. A Globalização do Capital – Uma História do Sistema Monetário Internacional. São Paulo: Editora 34, 2002.

RODRIGO, Paulo. B2B, B2C, B2G: entendendo a sopa de letras.

<http://www.e-commerce.org.br/>, acesso em 25.09.2009, as 15h31min.









segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Chernobyl, 20 anos depois - uma breve reflexão

Publicado originalmente no Inter Relações numero 21



¨Chernobyl significa: enfrentar uma guerra mais terrível do que a Segunda Guerra Mundial – a maior acontecida na história da humanidade¨ (Taissa Meltchanko).


O dia 26 de abril é uma data que muitos gostariam que não existisse no calendário. Há vinte anos, na localidade de Pripyat, a 18 km da cidade de Chernobyl, na Ucrânia, à 1 hora e 23 minutos da madrugada, houve um acidente no reator 4 da usina nuclear de Chenobyl e o destino de milhares de pessoas na Europa Oriental era selado. O mundo só tomou conhecimento do fato no dia 28 de abril de 1986, quando a extinta União Soviética, distribuiu um comunicado relatando o ocorrido.

A demora em divulgar o acidente ocorreu por conta das barreiras políticas, uma vez que a União Soviética ainda vivia sob a cortina de ferro, e o governo só divulgou nota à comunidade internacional quando a radiação em altos níveis começou a ser detectada na Europa, principalmente na França.

As causas do acidente ainda são confusas. Existem duas teorias que tentam explicar a ocorrência: a primeira delas, de agosto de 1986, colocou a culpa exclusivamente nos operadores da usina que, ao que se sabe, apesar da experiência no trabalho em usinas de geração elétrica, não possuíam qualificação para atuar em uma usina nuclear, por este motivo ignorando procedimentos básicos de segurança. A segunda teoria é de 1991 e atribuiu o acidente a defeitos no projeto do reator RBMK1, especificamente nas hastes de controle. Entretanto, esta é uma questão sem respostas concretas, uma vez que as testemunhas oculares não sobreviveram para relatar o que realmente ocorreu na madrugada do dia 26 de abril de 1986.

Dos fatos, o que se encontra documentado é que o reator 4 passaria por uma manutenção de rotina e seria desligado, ocasião em que seria também efetuado um teste para verificar se as bombas de água, responsáveis pela refrigeração do reator e outros dispositivos de segurança funcionariam no caso de interrupção no fornecimento de energia externa.

A energia para as bombas de água foi cortada, e como elas foram conduzidas pela inércia do gerador da turbina, o fluxo de água decresceu. A turbina foi desconectada do reator, aumentando o nível de vapor no núcleo do reator. À medida que o líquido resfriador aquecia, bolsas de vapor se formavam nas linhas de resfriamento. Esta situação gerou um superaquecimento do reator, que criou uma verdadeira bola de fogo dentro do edifício da planta, resultando em uma explosão que destruiu sua cobertura. Vale ressaltar que, diferente do que muitos pensam, a explosão foi térmica e não nuclear.

A explosão matou 31 pessoas instantaneamente e provocou a evacuação de mais de 130.000 pessoas da região, em virtude da exposição à radiação. Além disso, estima-se que a quantidade de radiação lançada na atmosfera equivale a cerca de 500 bombas da mesma potência da que foi lançada em Hiroshima.

A professora Marilia Teixeira da Cruz, afirma que “segundo os cientistas soviéticos, foram lançados na atmosfera 100% dos radionuclídeos de gases nobres presentes no reator“ (1996; 13). Esses radionuclídeos são uma variedade de elementos radioativos, originados no processo de combustão do urânio. Em momento algum esses elementos podem escapar para a atmosfera, pois contaminam o ar, a água, o solo, os alimentos e as pessoas.

A durabilidade da radioatividade é calculada na meia-vida do elemento, ou seja, no tempo em que ele leva pra perder metade de sua carga radioativa, podendo variar de minutos a centenas de milhares de anos. A explosão do reator liberou uma nuvem radioativa que se estendeu pela Ucrânia, Rússia e Bielorússia.

Conforme o jornalista Ricardo Arnt “basta um milionésimo de grama de plutônio para provocar câncer 30 anos após sua inalação“ (1985; 16). Ao absorver um radionuclídeo, o corpo humano o metabolizará da mesma forma que metabolizaria seu elemento estável, ou um outro elemento com propriedades químicas similares à sua. Como exemplo pode-se citar o iodo 131², que absorvido seguirá o mesmo caminho do iodo não radioativo, indo se localizar na tiróide. Recorde-se que um radionuclídeo está emitindo radiação sempre e, portanto, uma vez absorvido, ficará irradiando até que seja eliminado pela via biológica.

Afirma Cruz que “a radiação emitida ao atravessar os tecidos ioniza seus átomos deixando atrás de si elétrons e radicais livres. Quebra também ligações químicas de moléculas, dando origens a reações que podem modificar diretamente o conteúdo genético das células ou gerar radicais de hidroxila e peróxido de hidrogênio que poderão atacar biomoléculas importantes da célula” (1996; 15). A contaminação por radionuclídeos provoca conseqüências irreversíveis, causando nos seres humanos vários tipos de câncer (pulmão, tiróide, tecidos ósseos), defeitos congênitos e doenças genéticas.

O acidente inutilizou uma área equivalente a um Portugal e meio, 140 mil quilômetros quadrados, por centenas de anos. Entre 15 mil e 30 mil pessoas morreram desde então por razões associadas ao acidente. A ONU estima que cerca de seis milhões de pessoas ainda vivam em áreas contaminadas. Um em cada 16 ucranianos e milhões de pessoas nas vizinhas Rússia e Bielorússia sofrem complicações de saúde, como câncer da tireóide e problemas respiratórios atribuíveis ao desastre. Um milhão de crianças nasceram com defeitos físicos no país.

A triste realidade é que as maiores vítimas do acidente foram “crianças inocentes que até agora estão sofrendo. Muitas nem sabem quem e o quê destruiu sua saúde e felicidade. O destino e a vida de milhares de pessoas ficaram marcados para sempre. Nem o tempo vai apagar essa mancha da memória de todos nós¨ (Mélnitchenko: 1996, 125). Os organismos em desenvolvimento absorveram as maiores quantidades de radiação e seus efeitos nocivos não tardaram a se fazer sentir.

A fim de conter a radiação, foi construindo em volta do reator uma estrutura de aço e concreto, apelidada de sarcófago, que encerrou os restos do reator. Vale lembrar que apesar das toneladas de concreto lançadas sobre o reator, em seu interior ainda existe radioatividade, que pode escapar para a atmosfera. Pode-se até comparar o sarcófago com um vulcão adormecido, que dentro de escalas de probabilidades, pode ou não voltar à ativa.

Passados vinte anos, os índices de radioatividade permanecem altos tornando várias localidades inabitáveis, porém o uso da energia nuclear é uma constante em muitos países conforme pode ser observado no quadro que segue:




      País

      Unidades

Em Operação
Em Construção
África do Sul
2

Alemanha
19

Argentina
2
1
Armênia
1

Bélgica
7

Brasil
2

Bulgária
6

Canadá
14

China
3
8
China (Taiwan)
6
2
Coréia
16
4
Eslovênia
1

Espanha
9

Estados Unidos
104

Finlândia
4

França
59

Grã-Bretanha
35

Holanda
1

Hungria
4

Índia
14

Irã

2
Japão
53
3
Lituânia
2

México
2

Paquistão
2

República Eslovaca
6
2
República Tcheca
5
1
Romênia
1
1
Rússia
29
3
Suécia
11

Suíça
5

Ucrânia
13
4
Total
438
31


Fonte: IAEA PRIS DATA BANK 2001


Já que tal avanço é inevitável, o que se poderia fazer é usar a experiência de Chernobyl para, com base nela, construir um modelo de comportamento em situações semelhantes. As centrais nucleares aumentam no mundo, e com elas o risco também tende a crescer, apesar das precauções de segurança que possam ser tomadas.

Não se pode, entretanto, deixar de levar em consideração a situação política instável em algumas regiões do globo e os grupos terroristas que utilizam vários subterfúgios para se manifestar. Pois ¨mesmo que os conhecimentos técnicos se aprofundem e se aprimorem e que a segurança nas usinas seja aumentada (enterrando-as no subsolo, operando-as com robôs etc) a construção das instalações nucleares só pode ter uma referência básica: o juízo sobre a importância do risco que uma coletividade está disposta a assumir em vista das conseqüências sociais do exercício da atividade nuclear. É no nível político que o problema se coloca¨ (Arnt, 1985; 21).


Referências Bibliográficas:
ARNT, Ricardo. O que é Política Nuclear. 3a. Edição. São Paulo, SP. Editora Brasiliense, 1985.
CRUZ, Marilia Teixeira da. O que Aconteceu em Chernobyl e seus arredores, in, TOKURIKI, Keizo (coord). Bonecos de Neve em Chernobyl. São. Paulo Academia de Ciências do Estado de São Paulo, 1996.
MÉLNITCHENKO, Eléna. Restaram seis ao lado de mamãe, in TOKURIKI, Keizo (coord). Bonecos de Neve em Chernobyl. São. Paulo Academia de Ciências do Estado de São Paulo, 1996.
TOKURIKI, Keizo (coord). Bonecos de Neve em Chernobyl. São. Paulo Academia de Ciências do Estado de São Paulo, 1996.
Internet:
acessado em 17.01.2006.
1 Reactor Bolshoy Moshchnosty Kanalny:modelo de reator utilizado nas usinas nucleares da ex-União Soviética.
2 Um dos radionuclídeos produzidos na combustão do urânio.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Tecnologia, suporte da vida no século XXI



Apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, o ser humano continua frágil diante do universo que o cerca, ignorante ante muitos desafios com que sua inteligência se defronta e, principalmente, incapaz de se manter no rigor do lado ético da vida. (Nivaldo Jr.)



O século XX foi marcado por duas guerras que envolveram o mundo e mostraram o estágio de intolerância que o ser humano pode atingir quando acredita em ideologias ilusórias.
Um ponto positivo, contudo, deve ser apontado durante esse período: as inovações tecnológicas e novos materiais, frutos das pesquisas desenvolvidas durante os períodos de conflito e que nas décadas seguintes foram aperfeiçoados para proporcionar conforto à humanidade.
Exemplo claro de tais pesquisas é a internet, quem em seus primórdios foi um projeto originalmente concebido com fins defensivos e que acabou por popularizar-se e tornar-se ferramenta indispensável para a vida do novo milênio.
No limiar do novo século (XXI), o mundo assiste a um processo, a globalização, fenômeno, que apesar de antigo, ganhou novos contornos e maior exposição na mídia, sendo apresentado como solução para o estágio de evolução que a humanidade se encontra.
Esse fenômeno possui vários aspectos de cunho cultural, comunicacional, político e econômico. Dessa forma, o individuo, produto desse processo, apresenta-se com o desejo de ser cada vez mais competitivo, a fim de conquistar novos nichos de mercado, além de ter como necessidade a tomada de decisões em tempo real, gerando assim, novos modelos relacionais.
Alvin Toffler afirma que “(...) nas economias da terceira onda baseadas na mente, a produção em massa (que quase poderia ser considerada como a marca definidora da sociedade industrial) já é uma forma antiquada” (1993:39). Diante do exposto e da afirmação do autor, pode-se pressupor que a informação passa a ter papel relevante e ser vista como bem de consumo com alto valor econômico no mercado de capitais.
A complexidade do novo sistema exige trocas de informações cada vez maiores e mais ágeis entre suas unidades. As economias desse novo período funcionam em velocidades tão aceleradas que se faz necessária mão de obra especializada, com capacidades e habilidades genéricas capazes de se adaptar às mais diversas situações que se apresentarem.
O professor inglês Stuart Hall propõe que “(...) as transformações associadas à modernidade libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas” (1999:25). O resultado desse período classificado como modernidade é que ele tende a produzir um sujeito histórico fragmentado com deficiências de aprendizagem, emocionais e relacionais. As deficiências do sujeito da modernidade geram crises de identidade, nas quais o indivíduo perde a noção de limite entre o real e o imaginário, “resultando nas identidades abertas, contraditórias, inacabadas, fragmentadas, do sujeito pós-moderno” ( Hall, 1999:46).
Neste contexto, a tecnologia da informação – invenção humana – e sua ferramenta a internet, surgem com o intuito de facilitar a vida, proporcionando a eliminação de processos demorados, de forma que o tempo racionado possa ser empregado em outras atividades que agreguem valor ao ser humano.
Grande parte daquilo que se pode chamar de eventos importantes da vida diária, sofre influência da tecnologia da informação e são intermediados por um computador. Pode-se afirmar que tais transformações permitem a geração de novos modelos econômicos, comerciais, educacionais e relacionais, baseados em plataformas dinâmicas que permitem decisões e comunicações em tempo real, aumentando a competividade e interatividade entre os atores de determinado cenário.
A oferta de soluções que garantam disponibilidade, acessibilidade, facilidade, agilidade e segurança, permitindo aos consumidores interagir via internet com seu fornecedor escolhido é fator primordial nas estratégias de negócios, pois o consumidor ou o potencial interessado, tem necessidades que anseia satisfazê-las, por isso, dará sua preferência àquele que lhe proporcionar mais vantagens. Considere-se também como vantagem estratégica, o fato de que a internet, além de ser uma ferramenta dinâmica, não está limitada às fronteiras, reduzindo distâncias, o que proporciona mais competitividade entre os integrantes deste novo formato da economia.
Dessa forma, toda uma infraestrutura surge para suportar esses novos modelos virtuais, que prometem facilitar a vida de seus usuários, resultando em sites voltados ao comércio eletrônico, disponibilização de serviços bancários, relacionamentos, noticias, serviços públicos, entretenimento, entre outros. Some-se a isso, alguns ganhos de escala, tais como o fato de que por serem virtuais, esses serviços não geram a necessidade de instalações físicas, resultando a redução de custos, o que se possibilita atingir um público maior com investimentos menores e conseqüentemente, no aumento de lucro para as empresas que se dispuserem a participar desses modelos virtuais.
Neste contexto, a informação passa a ser um bem de troca, torna-se moeda, e tem valor monetário, pois pode influenciar mercados. Perdas de dados, acessos não autorizados, roubo de informações, disponibilidade e confidencialidade tornam-se pontos vulneráveis neste processo que necessitam ser mitigados da melhor forma possível. Entende-se, diante disso, que não bastam inovações tecnológicas que propiciem ganhos em escala se não forem considerados e mitigados os riscos que envolvem o processo.
A informação é um dos elementos essenciais para uma empresa ou organização. Manter sua confidencialidade, integridade e disponibilidade é fator crítico para o sucesso de toda a empresa que s não considerados podem comprometer toda uma cadeia de decisões ou negócios, causando prejuízos para os envolvidos.
Políticas de Segurança da Informação, orientações aos usuários, implementação de certificados digitais, senhas e outros dispositivos que permitam transações e interações seguras, são componentes essênciais para resguardar as informações. Deve-se considerar que o sucesso de todo este aparato depende de um elemento fundamental nessa cadeia, responsável pelo sucesso ou insucesso de toda a infraestrutura que suporta a vida do século XXI – o ser humano.




Referências Bibliográficas:

ALECRIM, Emerson. O que é Tecnologia da Informação (TI). Disponível em: <http://www.infowester.com/col150804.php>. Acesso em: 13 maio 2008.
CARMO, Paulo Sérgio. O Trabalho na Economia Global. São Paulo, Editora Moderna, 1998.
DELEMOS, Virmond Richard. e-Economics: O impacto da internet na economia. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, São José dos Pinhais, 2000. Disponível em: <http://www.widebiz.com.br/ebooks/delemos/economics.pdf>. Acesso em: 13 maio 2008.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 11a reimpressão. Graal, Rio de Janeiro, 1999.

HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. DP & A Editora, Rio de Janeiro, 1999.

NIVALDO JR. José. Maquiavel, O Poder – História e Marketing. 2a Edição. Martin Claret, São Paulo, 1999.

ROCHMAN, Alexandre Ratner. Globalização – uma introdução. Desatino, São Paulo, 2003.

TOFFLER, Alvin e Heidi. Guerra e Antiguerra – Sobrevivência na Aurora do Terceiro Milênio. 2a Edição. Record, Rio de Janeiro, 1993.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A TECNOLOGIA COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO


Publicado originalmente na Revista de Pedagogia Perspectivas em Educação da Unicaieiras.

Set, Out, Nov e Dez / 2007.

 

Apesar de todo o desenvolvimento tecnológico, o ser humano continua frágil diante do universo que o cerca, ignorante ante muitos desafios com que sua inteligência se defronta e, principalmente, incapaz de se manter no rigor do lado ético da vida. (Nivaldo Jr.)

No início do século XX, a humanidade chocou-se com duas guerras que envolveram o mundo e mostraram o estágio de intolerância que o ser humano pode atingir quando acredita em ideologias ilusórias.
Um ponto positivo, entretanto, que deve ser apontado nesse período, são as inovações, avanços tecnológicos e novos materiais, frutos das pesquisas desenvolvidas na Primeira Guerra Mundial e que, nas décadas seguintes, foram aperfeiçoados para proporcionar conforto à humanidade.
No limiar do novo século (XXI), o mundo assiste ao processo da globalização, fenômeno que, apesar de antigo, ganhou novos contornos e maior exposição na mídia, sendo apresentado como solução para o estágio de evolução que a humanidade se encontra.
Esse fenômeno possui vários aspectos de cunho cultural, comunicacional, político e econômico.  Dessa forma, o desejo de ser cada vez mais competitivo, a fim de que se possa conquistar novos nichos de mercado e a necessidade da tomada de decisões em tempo real, gera novos modelos relacionais.
Alvin Toffler afirma que “nas economias da terceira onda, baseadas na mente, a produção em massa (que quase poderia ser considerada como a marca definidora da sociedade industrial) já é uma forma antiquada” (1993, 39). Diante do exposto e da afirmação do autor, pode-se pressupor que a informação passa a ter papel relevante e ser vista como bem de consumo com alto valor econômico no mercado de capitais.
A complexidade do novo sistema informacional exige trocas de informação cada vez maiores e mais ágeis entre suas unidades. As economias desse novo período, funcionam a velocidades tão aceleradas que se faz necessário mão-de-obra especializada, com capacidades e habilidades genéricas, capazes de se adaptar às mais diversas situações que se apresentarem.
O professor inglês Stuart Hall propõe que “as transformações associadas à modernidade libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas” (1999, 25). O resultado desse período classificado como modernidade é que ele tende a produzir um sujeito histórico fragmentado com deficiências de aprendizagem, emocionais e relacionais. As deficiências do sujeito da modernidade geram crises de identidade nas quais o indivíduo perde a noção de limite entre o real e o imaginário, “resultando nas identidades abertas, contraditórias, inacabadas, fragmentadas, do sujeito pós-moderno” (HALL, 1999, 46).
Diante de tantas transformações, a escola acaba por ocupar posição de destaque na formação e capacitação que o mercado exige. A professora Selma Garrido afirma que “a educação, enquanto reflexo, retrata e reproduz a sociedade; mas também projeta a sociedade que se quer” (2002, 97). A escola cumpre assim papel de locus socializante e também de propagadora do conhecimento acumulado por outros. Paulo Meksenas afirma que a aquisição do conhecimento não deve ter como objetivo a erudição, o saber pelo saber, mas sim a possibilidade de que o conhecimento possa ser ferramenta a mais no processo de transformação social (2002, 89).
Neste contexto a tecnologia, invenção humana, surge com o intuito de facilitar a vida, proporcionando a eliminação de processos demorados, de forma que o tempo racionado possa ser empregado em outras atividades que agreguem valor ao ser humano.
Partindo dessa premissa, a tecnologia pode ser aplicada na sala de aula, propiciando ganho de qualidade na discussão de conteúdos e também como ferramenta inclusiva, eliminando barreiras, pois abre a possibilidade de inserção de portadores de necessidades especiais na sala de aula. Como exemplo dessa face inclusiva pode-se citar o uso de livros falados ou livros em Braile para cegos ou então a adoção da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS - que facilita o entendimento para surdo-mudos.
De volta ao uso de recursos na sala de aula, é interessante frisar que a cultura do país é uma cultura visual, ou seja, a mensagem que se deseja transmitir é melhor assimilada quando carregada por algum meio que prenda a atenção do receptor, atuando  com mais eficácia do que o texto escrito, que diga-se de passagem não atrai a simpatia da grande maioria da população.
Assim com planejamento adequado, o professor tem importantes aliados tecnológicos para auxiliar em seu trabalho, permitindo inovações na sala de aula. Televisão, vídeo, DVD, aparelhos de áudio, retroprojetor, datashow, entre outros, são alguns exemplos de recursos que, direcionados devidamente, possibilitam a transformação de assuntos maçantes em algo agradável de se conhecer e assimilar.
Dessa forma até os alunos podem participar mais ativamente do processo de produção do conhecimento, pois balizados por temas relacionados à disciplina, podem coletar material, efetuar triagem dos que mais se adeqüem ao momento e apresentar aos demais colegas de classe.
O professor, neste contexto, torna-se o condutor do processo de conhecimento, pois direciona a atenção do grupo e canaliza as informações que são expostas quando do uso das ferramentas tecnológicas, transformando a situação em um processo dinâmico e interativo. Sua principal tarefa passa a ser a construção subjetiva do problema, esclarecendo o que acontece ao seu redor. Sua atuação neste sentido deve ser a de mediador do conhecimento, de forma que possa estabelecer relacionamentos entre as mais diversas formas de aprendizagem e aplicação que se apresentam.

Segundo A.I. Pérez Gómez profissional, “parece claro para todos os autores e correntes da sociologia da educação que o objetivo básico e prioritário da socialização dos alunos/as na escola é prepará-los para sua incorporação no mundo do trabalho” (2000, 14). Entretanto, além dessa função para habilitar para o trabalho, a escola deve formar o cidadão para sua intervenção e atuação na vida pública.
Esse ponto de vista é corroborado com a afirmação de Selma Garrido de que “os professores encontram-se em situação paradoxal (...) espera-se deles que sejam ao mesmo tempo lideranças catalisadoras (aceleradoras) e elementos de resistência” (2002, 87). São eles que necessitam transformar o conhecimento teórico em instrumento de reflexão para interpretar a realidade concreta em que o indivíduo está inserido e atua, essa reflexão é o componente permanente e essencial para constituir a formação.
Sobre a questão da reflexão é novamente Selma Garrido quem dá pistas sobre a necessidade de se rever a prática docente, pois segundo a autora: “não existe a menor garantia de que um processo que funcionou com um grupo vá funcionar da mesma forma com outro” (idem, 194). Esse ponto de vista também é reforçado por Hans Aebli quando recomenda que “o professor deve manter-se em intimo contato psicológico com a classe. Deve procurar sentir se a classe o entende, se é capaz de realizar as operações intelectuais que dela exige” (1982,18).
Ainda sobre o assunto vale acrescentar a consideração de Antoni Zabala de que “os docentes, independentemente do nível em que trabalhem, são profissionais que devem diagnosticar o contexto de trabalho, tomar decisões, atuar e avaliar a pertinência das atuações, a fim de reconduzi-las no sentido adequado” (1998,10). Dessa forma a ação reflexiva é ferramenta essencial para a prática docente, pois além de produzir efeitos no meio em que se desenvolve, possui também efeitos duradouros na pessoa que a realiza.
Na tentativa de contribuir com a formação profissional, muitos erros e acertos acabam sendo cometidos no decorrer do caminho, a linha delimitadora entre erro e acerto é muito tênue, tornando difícil julgar com precisão o que realmente é certo ou errado.
O docente diante de um contexto tão complexo tem a função primordial de fornecer os elementos formadores e norteadores, para que o educando de hoje e o profissional de amanhã, mesmo convivendo com tal diversidade possa ser sujeito atuante e capaz de transformar a história, percebendo que o “Tudo o que dizemos tem um antes e um depois – uma margem na qual outras pessoas podem escrever” (HALL, 1999, 41) ou seja, o conhecimento não é algo acabado e está em constante mutação.

Referências Bibliográficas:
AEBLI, Hans. Prática de Ensino. Edusp, São Paulo, 1982.
CARMO, Paulo Sérgio. O Trabalho na Economia Global. São Paulo, Editora Moderna, 1998.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 11a reimpressão. Graal, Rio de Janeiro, 1999.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a Crise do Capitalismo Real. São Paulo, Cortez, 2000.
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. DP & A Editora, Rio de Janeiro, 1999.
MEKSENAS. Paulo. Sociologia da Educação. 10a Edição.Edições Loyola, São Paulo, 2002.
NIVALDO JR. José. Maquiavel, O Poder – História e Marketing. 2a Edição. Martin Claret, São Paulo, 1999.
PIMENTA, Selma Garrido e MASTASIOU, Lea das Graças Camargo. Docência no Ensino Superior – Vol. I. Cortez, São Paulo, 2002.
PONCE, Aníbal. Educação e Luta de Classes. São Paulo, Editora Cortez, 1998.
ROCHMAN, Alexandre Ratner. Globalização – uma introdução. Desatino, São Paulo, 2003.
SACRISTÁN, J. Gimeno et GÓMEZ, A. I. Peres. Compreender e Transformar o Ensino. Porto Alegre, Artmed Editora, 2000.
TOFFLER, Alvin e Heidi. Guerra e Antiguerra – Sobrevivência na Aurora do Terceiro Milênio. 2a Edição. Record, Rio de Janeiro, 1993.
ZABALA, Antoni. A Prática Educativa – Como Ensinar. Artmed, Porto Alegre, 1998.